segunda-feira, 31 de março de 2014

Há 20 anos: Discurso comovente de Madre Teresa em Washington

Discurso de Madre Teresa de Calcutá no 'National Prayer Breakfast'
Washington DC, 3 de Fevereiro de 1994

No último dia, Jesus dirá aos que estão à sua direita, "Venham, entrem no Reino. Porque quando tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, estive doente e vieste visitar-me". E, logo depois, Jesus dirá aos que estão à sua esquerda, "Afastem-se de mim, porque tive fome e não me deste de comer, tive sede e não me deste de beber, estive doente e não me visitaste". Eles perguntaram-lhe, "Quando é que te vimos esfomeado, ou com sede, ou doente e não te ajudámos?" Jesus responder-lhes-á, "O que fizerem a um destes mais pequenos, é a mim que o fazem!"

Aqui, ao encontrarmo-nos reunidos para rezar juntos, penso no bonito que seria se começássemos com uma oração que expressa muito bem o que Jesus quer que façamos pelos mais pequenos. Sao Francisco de Assis compreendia muito bem as palavras de Jesus e a sua vida ficou bem plasmada nesta oração. Esta oração que nós (as irmãs Missionárias da Caridade) dizemos todos os dias depois de receber a Santa Comunhão, não deixa de surpreender-me, porque encontro-a muito adequada para cada um de nós. Sempre me perguntei se, há oitocentos anos, quando viveu São Francisco, tiveram as mesmas dificuldades que enfrentamos hoje em dia. 

(Rezou-se a oração de São Francisco)

Demos graças a Deus pela oportunidade que nos deu de virmos rezar juntos. Viemos aqui, para rezar, especialmente, pela paz, gozo e amor. Recordemos que Jesus veio trazer as boas noticias aos pobres. Ele disse-nos quais eram essas boas notícias quando disse: "Deixo-vos a minha Paz. Dou-vos a minha Paz." Ele não veio para dar a paz que dá o mundo, a qual é simplesmente a que uns não aborreçam outros. Ele veio dar a paz do coração, a qual vem quando amamos, ao fazer bem ao próximo.

 Deus amou tanto o mundo que lhe entregou o seu único Filho - era já um facto. Deus deu o seu Filho à Virgem Maria. E que fez Ela? Quando Jesus veio à vida de Maria, Ela, imediatamente, foi dar as boas notícias. E entrou na casa da sua prima Isabel e as Escrituras dizem que o seu filho, ainda não nascido, a criança dentro do ventre de Isabel, saltou de alegria. Do ventre de Maria, Jesus trouxe paz a João, o Baptista, que saltou de alegria no ventre de Isabel.

E, como se não fosse suficiente - que Deus Filho se fizera um de nós e nos trouxera Paz e Alegria, mesmo ainda quando estava no ventre de Maria - Jesus também morreu na Cruz para demonstrar um amor ainda maior. Ele morreu por ti e por mim. E pelo leproso, e pelo que morre de fome. E pelo que se encontra despido e caído pela rua, não só em Calcutá, também em África e em todos os lados. As nossas irmãs servem os pobres em 105 países pelo mundo. Jesus insistiu que nos amassemos uns aos outros como ele nos ama. Jesus deu a sua vida para amarmos e disse-nos que também devemos dar o que seja para fazer bem ao próximo. 

Nos Evangelhos, Jesus disse claramente: "Amai-vos como eu vos amei." Jesus morreu na Cruz porque isso é o que lhe era pedido: para fazer um bem por todos nós, para salvar-nos dos nossos pecados e egoísmos. Ele deu tudo para cumprir a vontade do Pai, para mostrar que nós também devemos estar dispostos a dar tudo para cumprir a vontade de Deus, para amarmos uns aos outros como Ele nos amou. Se não estamos dispostos a dar tudo para fazer o bem ao próximo, o pecado vive em nós. É por isto que nós também devemos dar até que doa. Não é suficiente dizer "Amo a Deus". Tenho também que amar-me a mim próprio. São João adverte-nos que somos mentirosos se dizemos que amamos a Deus e não amamos o nosso próximo.

Como se pode amar Deus, que não se vê, se não amas o teu próximo, a quem podes ver, podes tocar, e com quem vives?

Portanto, é muito importante entender que amar, para que seja verdadeiro amor, tem que doer. Devo estar disposto a dar tudo, para fazer o bem. Isto requer estar disposto a dar até que doa. De outro modo não há verdadeiro amor em mim e, por fim, no lugar de levar boas notícias, levo a injustiça e não a paz aos que estão ao meu redor. A Jesus doi-lhe amar-nos. Fomos feitos, criados, à Sua imagem para coisas muito maiores, para amar e ser amados. Devemos "vestir-nos de Cristo" como dizem as Escrituras. Por isto, fomos criados para amar e ser amados, Deus fez-se homem para comprovarmos que podemos amar da mesma maneira que Ele nos amou. Jesus faz-se o esfomeado, o despido, o desamparado, o rejeitado e disse-nos, "fizeram-no a mim". No último dia Ele dirá aos da sua direita, "O que fizeram a um destes mais pequenos, fizeram-no a Mim"; e também dirá aos da sua esquerda, "O que deixaram de fazer a um dos meus pequenos, deixaram de o fazer a Mim."

Quando Jesus morria na Cruz disse: "Tenho sede". Jesus está sedento de amor e esta é a sede de todos, pobres e ricos. Todos estamos sedentos do amor de outros. Este é o significado do verdadeiro amor: dar até que doa.


Nunca esquecerei experiência que tive a visitar uma instituição para onde os filhos mandam os seus pais, já na terceira idade, para esquecerem-se deles. Vi que, neste lugar, esta gente da terceira idade tinha tudo: boa comida, um lugar cómodo, televisão… Têm tudo! Porém, todos tinhas os olhos postos nas portas de entrada. E não vi nenhum com um sorriso no rosto. E eu perguntei à irmã: "Porque é que eles, que têm todas as comodidades aqui, têm os olhos postos nas portas? Porque é que não sorriem?" Eu estou tão acostumada a ver sorrisos nas caras das pessoas, até mesmo nos moribundos. E a irmã disse: "É assim todos os dias. Estão à espera, desejando que um filho ou uma filha os venha visitar. Estão feridos, porque foram esquecidos." Falta de amor traz pobreza espiritual. Talvez, nas nossas próprias famílias, temos alguém que se sente sozinho, doente, preocupado. Estamos com eles? Acompanhamos ou deixamo-los ao cuidado de outros? Estamos dispostos a dar até que doa para estar com as nossas famílias, ou pomos os nossos próprios interesses primeiro? Estas são as perguntas que nos devemos fazer, especialmente no começo do ano da família. Devemos recordar que o amor começa em casa e devemos recordar que "o futuro da humanidade passa pela família".

 Surpreendeu-me ver, no Ocidente, tantos jovens que se entregam às drogas. Averiguei o porquê. Porque é que no Ocidente são assim, se têm muito mais que os do Oriente? A resposta foi: "Porque não há ninguém nas suas famílias que os receba". Os nossos filhos dependem de nós para tudo, a sua saúde, a sua nutrição, a sua segurança, o conhecimento e amor a Deus. Por tudo isto, eles não olham com confiança, expectativa e esperança. Mais ainda, o pai e a mãe estão de tal forma ocupados que não têm tempo para os seus filhos, ou talvez nem sequer estão casados ou deram-se por vencidos no matrimónio. Por tudo isto, as crianças ficam pela rua e entretém-se com as drogas e outras coisas. Falamos de amor às crianças que é onde devem começar o amor e a paz. Estes são os factos que contribuem para que não haja paz. Sinto, porém, que hoje em dia o maior destruidor da paz é o aborto, porque é guerra contra as crianças, o assassínio directo dos inocentes, assassínio da mãe contra si mesma.

Se aceitamos que uma mãe assassine o seu próprio filho como podemos dizer aos outros que não se matem? Como podemos convencer uma mulher que não cometa o aborto? Como em tudo, devemos persuadi-la com amor e recordar que amar significa dar até que doa. Jesus deu até a sua vida porque nos amava. A mãe que está a pensar cometer um aborto deve ser ajudada a amar, ou seja, dar até que doam os seus planos, o seu tempo livre, para que respeite a vida de seu filho. O pai desta criança, quem quer que seja, deve também dar até que lhe doa. Com o aborto, a mãe não aprende a amar, aprende antes a matar o seu próprio filho para resolver os seus problemas.

 No aborto diz-se ao pai que não tem qualquer responsabilidade sobre a criança que trouxe à vida. O pai é capaz de colocar outras mulheres na mesma circunstância. Portanto, o aborto só conduz a mais abortos. Qualquer país que aceite o aborto, não ensina a sua gente a amar, mas antes a utilizar a violência para receber o que querem. É por isto que o maior destruidor do amor e da paz é o aborto.

Muita gente preocupa-se bastante com as crianças da Índia, com os miúdos de África, com os que morrem à fome, etc. Muita gente também se preocupa por toda a violência desta grande nação, os Estados Unidos. Essas preocupações são boas. Contudo, estas mesmas pessoas não se interessam pelos milhões que, intencionalmente, são assassinados por decisão das suas próprias mães. E este é o maior destruidor da paz dos nossos dias - o aborto cegou as pessoas.

E, por isto, eu apelo na Índia e em qualquer outro lugar: "vamos trazer de volta as crianças". A criança é um presente de Deus para a família. Cada miúdo é criado de modo especial, à imagem e semelhança de Deus, para grandes coisas. Para amar e ser amado. Neste ano da família, devemos trazer as crianças para o centro do nosso cuidado e atenção. Esta é a única esperança para o futuro. Quando os velhinhos são chamados para Deus, só os seus filhos podem substituí-los.

O que é que Deus nos disse? "Ainda que a mãe se esqueça do seu filho, Eu não o esquecerei. Gravei-te na palma da Minha mão." Todos estamos gravados na palma das Suas mãos. A criança abortada também está gravada na palma da Sua mão desde o momento da concepção e é chamado, por Deus, a amar e ser amado, não só agora nesta vida, mas para sempre. Deus nunca nos esquece.

 Vou-vos contar uma coisa bonita. Nós lutamos contra o aborto com a adopção, cuidando da mãe e adoptando a criança. Salvámos milhares de vidas. Comunicámos às clínicas, hospitais e às estações de polícia: "Por favor, não destruam as crianças; nós encarregamo-nos delas." De tal modo assim é que há sempre alguém que diz às mães com problemas: "Vem, nós cuidaremos de ti, vamos conseguir um lugar para o teu filho." E temos uma grande lista de casais que não podem ter filhos que os podem acolher. Disse Jesus: "Aquele que receber esta criança em Meu nome, é a Mim que recebe." Ao adoptar uma criança, estes casais recebem Jesus. O casal que aborta uma criança recusa Jesus.

Por favor, não assassinem as crianças. Eu quero as crianças. Por favor, entreguem-me as crianças. Eu estou disposta a aceitar qualquer criança que tenham querido abortar e, se o entregarem, vou levá-la para um casal, para uma famílias que a amará e que será amada por esta criança.

Só em Calcutá, salvámos do aborto mais de 3 000 crianças. Estes miúdos trouxeram tanto amor e alegria aos seus pais adoptivos e cresceram cheios de amor e alegria. Eu sei que os casais devem planear as suas famílias, mas para isso há o planeamento familiar natural.

O modo de planear as famílias é por meios naturais, não por meios contraceptivos. Ao destruir o poder de dar a vida, através da contracepção, o casal faz mal a si próprio. Isto muda a atenção que têm a si próprios e destrói a possibilidade de se amarem um ao outro. Ao amarem-se um ao outro, a atenção está no amor de um para com o outro. Ao amar-se, o casal dá atenção a um e a outro, e isto é o que acontece com o planeamento familiar natural, e não como acontece egoisticamente com a contracepção. Uma vez destruído o amor pela contracepção, o aborto prossegue facilmente, pois é o passo lógico a  seguir à contracepção.

Eu sei que há problemas muito grandes no mundo, que muitos casais não se amam o suficiente para utilizar o planeamento familiar natural. Não podemos resolver todos os problemas do mundo, mas permitam-me trazer o pior problema de todos, e esse é o que destrói o amor. E isso é o que acontece quando as pessoas praticam a contracepção e o aborto. Há muitos pobres no mundo. Eles podem ensinar-nos muitas coisas bonitas. Uma vez, uma mulher veio agradecer-me por lhe ter ensinado o planeamento familiar e disse "Vocês, que praticam a castidade, são as melhores a ensinar-nos o planeamento familiar natural, porque não é nada mais que o auto-controlo por amor a um outro." E o que esta pessoa pobre disse está muito certo. As pessoas pobres podem não ter nada para comer, talvez até não tenham onde viver, mas são pessoas grandiosas e muito ricas espiritualmente.

Quando recolho uma pessoa na rua, faminta, dou-lhe um prato de arroz e um pedaço de pão. Mas uma pessoa que está sozinha, sente-se rejeitada - como se ninguém a amasse -, atemorizada - pois foi rejeitada pela sociedade e tem medo -, tem uma pobreza que é mais difícil de vencer e essa é a pobreza espiritual. O aborto, que prossegue a contracepção, torna as pessoas espiritualmente pobres e essa é a pior pobreza e a mais difícil de vencer.

Os que são materialmente pobres podem ser gente maravilhosa. Uma tarde fomos recolher quatro pessoas da rua. Uma delas estava numa condição horrível. Disse às Irmãs: "Vocês encarreguem-se dos outros três; eu encarrego-me do que está pior." Assim foi que fiz tudo o que o meu amor pôde fazer por ele. Encostei-o numa cama e fez-me um belíssimo sorriso. Pegou-me na mão e disse uma só palavra: "obrigado". E morreu de seguida.

Não pude fazer nada mais que examinar a minha consciência diante daquela pessoa. E perguntei: "O que diria eu se estivesse no seu lugar?" A minha resposta foi sincera. Eu teria tratado de chamar a atenção. Teria dito, "tenho fome, tenho frio, estou com dores", ou algo parecido. Mas aquela pessoa disse-me muito mais, deu-me o seu grande amor. E morreu com um sorriso no rosto. Também houve um homem que recolhemos nos esgotos, meio comido pelos vermes, que depois de o trazermos para casa só nos disse: "Vivi como um animal na rua, mas vou morrer como um anjo, amado e cuidado".

Logo depois de lhe tirarmos os vermes do corpo, tudo o que disse, com um grande sorriso, foi: "Irmã, vou para a casa de Deus". E morreu de seguida. Foi tão maravilhoso ver a força desse homem que podia falar assim, sem culpar ninguém, sem comparar com nada. "Como um anjo", esta é a grandeza das pessoas que são espiritualmente ricas, ainda que materialmente pobres.

Não somos trabalhadoras sociais. Podemos fazer trabalho social aos olhos de algumas pessoas, mas nós devemos ser contemplativas no coração do mundo. Porque tocamos o corpo de Cristo e estamos sempre na sua presença.

Vocês também devem trazer a presença de Deus às vossas famílias, porque a família que reza unida, permanece unida.

Há demasiado ódio, demasiada miséria e, com as nossas orações, com os nossos sacrifícios, começamos a partir do lugar onde estamos. O amor começa em casa e não é 'quanto fazemos', mas 'quanto amor pomos no que fazemos'.

Sim, somos contemplativas no coração do mundo, mesmo com todos os problemas, mas estes nunca nos poderão desanimar. Devemos recordar sempre que Deus disse-nos nas Escrituras: "Ainda que a mãe se esqueça do seu filho no ventre, algo impossível, mas, se ainda assim, ela se esquecer, Eu nunca o esquecerei." E, por isso, aqui me encontro, dirigindo-me a vós. 

Quero encontrar os pobres aqui, nos vossos lugares, primeiro. E começar a amar aí. Sejam portadores de boas notícias às vossas famílias, em primeiro lugar. E, logo depois, aos vossos vizinhos. Conhecem-os? Eu tive uma grande experiência de amor na proximidade a uma família hindú. Um homem veio à nossa casa e disse: "Madre Teresa, há uma família que não come há muito tempo. Faça alguma coisa." E assim foi. Peguei num bocado de arroz e fui para lá imediatamente. E vi as crianças. Os seus olhos brilhavam de fome. Não sei se alguma vez viram a fome. Eu sim, e com muita frequência. E a mãe da família pegou no arroz e foi à rua. Quando regressou perguntei-lhe: "Onde foi? O que foi fazer?" E recebi uma resposta muito sincera: "Eles também têm fome." O que me espantou foi que ela sabia daquele facto. E quem eram os que tinham fome? Uma família de muçulmanos. E ela sabia que eram muçulmanos. Não levei mais arroz nessa tarde, porque queria que eles, muçulmanos e hindús, desfrutassem do gozo de partilhar. E as crianças irradiavam alegria, partilhando a alegria e a paz com a mãe porque ela soube amar até que lhe doesse. E vêem, é aí que começa, em casa, com a família.

É de tal modo assim que, como demonstra esta família, Deus nunca nos esquece e tem sempre alguma coisa para vocês e para eu fazer. Podemos manter a alegria de amar Jesus nos nossos corações, partilhando essa alegria com aqueles que contactamos. Tomemos uma decisão, determinemos que nenhuma criança seja rejeitada ou que não seja amada, ou que não se preocupem com ela, ou que seja assassinada, ou atirada para o lixo. E dêem até que vos doa, com um sorriso.

Já que falo muito de dar com um sorriso… Uma vez um professor dos Estados Unidos perguntou-me: "é casada?"; e eu respondi: "sim, e às vezes tenho muitas dificuldades em dar um sorriso ao meu esposo, Jesus, porque Ele pode ser bastante exigente, por vezes." Isto é verdadeiramente certo.

E é daí que o amor sai, quando é exigente, e quando, todavia, podemos dá-lo com alegria.

Uma das coisas mais exigentes para mim é viajar a qualquer lado - e com publicidade. Eu já disse a Jesus que, se não for para o céu por algum outro motivo, ao menos irei por todas as viagens que faço (com toda a publicidade que têm). Isso purificou-me e sacrificou-me e, em verdade, preparou-me para ir para o céu. Se recordamos que Deus nos ama e que podemos amar os outros assim, como Ele nos ama, então a América pode chegar a ser um sinal de paz para o mundo

Deste lugar deve sair para o mundo um aviso de cuidar os mais fracos e os não nascidos. Sim, vocês convertam-se num farol ardente de justiça e paz no mundo, então verdadeiramente serão fieis ao que os fundadores deste país representavam. 

 Que Deus vos abençoe. 




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domingo, 30 de março de 2014

Bispo Auxiliar de Roma celebra Missa em Forma Extraordinária

Hoje fez-se história: 50 anos depois, um bispo auxiliar de Roma, Mons. Matteo Zuppi, celebrou novamente a Missa Antiga numa paróquia romana. Foi na igreja da Santissima Trinità dei Pellegrini, mesmo no centro, perto do Campo de' Fiori.

O bispo, ainda pouco experiente nestas andanças, deixou-se guiar pelos cerimoniários, e correu tudo muito bem. Na homilia pediu desculpa pelos seus possíveis enganos litúrgicos, mas, em jeito de brincadeira e arrancando uma gargalhada à assembleia, disse que como estavam “de costas” ninguém iria reparar em nada.




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Deus cura todas as doenças - Santo Agostinho

El Greco (Domenikos Theotokopoulos), Toledo (1540/41–1614)


«[Deus]cura todas as tuas enfermidades» (Sl 103,3). Não temas, todas as doenças serão curadas. Dirás que são grandes; mas o Médico é maior. Para um Médico todo-poderoso não há doenças incuráveis. Deixa apenas que Ele te trate, não rejeites a sua mão; Ele sabe o que tem a fazer. Não te alegres apenas quando Ele age com suavidade, aceita-O quando corta. Aceita a dor do remédio, pensando na saúde que te vai trazer. 

Vede, meus irmãos, tudo o que os homens, nas suas doenças, aguentam para prolongar a vida mais alguns dias. […] Tu, ao menos, não sofrerás por um resultado duvidoso: Aquele que te prometeu a saúde não Se pode enganar. Porque é que os médicos às vezes se enganam? Porque não foram eles que criaram o corpo que tratam. Mas Deus fez o teu corpo, Deus fez a tua alma. Ele sabe recriar o que criou; sabe reformar o que formou. Só tens de te abandonar às suas mãos de médico. […] Suporta, portanto, essas mãos e «bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não esqueças nenhum dos seus benefícios. É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades» (Sl 103,2-3). 

Aquele que te concebeu para que nunca estivesses doente, se tivesses querido guardar os seus preceitos, não te curará ? Aquele que fez os anjos e que, ao recriar-te, te fará igual a eles, não te curará? Aquele que fez o céu e a terra, Ele, que te fez à sua imagem, não te curará? (cf Gn 1,26) Curar-te-á mas, para isso, tens de consentir em ser curado. Ele cura de modo perfeito todos os doentes, mas só se eles quiserem. […] A tua saúde é Cristo


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sábado, 29 de março de 2014

O silêncio também é um acto homofóbico?

Mais uma vez, em Itália, o silêncio das Sentinelas em Pé [Sentinelle in Piedi] é acusado de homofobia. A última acusação veio do site agregador de notícias Huffington Post, que publicou uma carta aberta ao jornal italiano Avvenire culpando-o de divulgar uma carta das próprias Sentinelas, e mais ainda, de ter corajosamente disparado o alarme contra a intromissão da ideologia de género nas escolas do país. A carta aberta do Huffington Post tacha as Sentinelas de "pessoas homofóbicas e transfóbicas, que, de maneira cada vez mais visível e óbvia, se recusam a ceder às mudanças sociais".

“A acusação destaca duas coisas”, comentam as Sentinelas num comunicado recém-publicado, “Por um lado, confirma a necessidade urgente de nos mobilizarmos contra o liberticida projecto de lei Scalfarotto, que trata da homofobia. Se hoje somos acusados de homofobia apenas por ficar em silêncio nas ruas e praças a fim de expressar a nossa legítima dissensão diante de uma medida legislativa, o que acontecerá amanhã, se a lei entrar em vigor?".

“Não nos cansaremos nunca de afirmar que este texto”, continua o comunicado das Sentinelas, “apresentado como necessário para impedir actos de violência contra pessoas com tendências homossexuais, é na verdade inconstitucional, já que não especifica o que se entende por homofobia e, portanto, deixa aberta a possibilidade de que simples opiniões estejam sujeitas a processos, como hoje já são passíveis de acusações. Com essa lei, poderia ser processado qualquer um que se dissesse contrário às adopções de crianças por parceiros do mesmo sexo, bem como qualquer um que sustentasse que a família se baseia na união entre um homem e uma mulher".

O segundo aspecto destacado pelas Sentinelas é "o grande engano que este projecto leva em frente: a contraposição entre homossexuais e heterossexuais. Não há um ‘nós’ e um ‘vocês’ em mútuo combate; não para as Sentinelas em Pé, que se recusam a catalogar as pessoas com base em orientação sexual, já que não é este aspecto o que constitui a integridade da pessoa".

“Por trás da reclamação de supostos direitos negados, o lobby LGBT arroga-se o direito de falar em nome de todos os homossexuais e transexuais, sem considerar que, entre eles, há pessoas completamente contrárias à sua pretensão de direitos baseados na "orientação sexual". Muitas dessas pessoas acompanham-nos nas manifestações de rua. Não só isso: com essa mesma abordagem, as próprias Sentinelas em Pé são pejorativamente catalogadas com o preguiçoso e velho rótulo de ‘reacionárias católicas’ ou ‘fanáticas’”.

"O quanto isso é falso é demonstrado pela realidade das nossas vigílias: a nossa rede é uma organização apartidária e aconfessional, e, entre as Sentinelas em Pé, há, por exemplo, cidadãos católicos, muçulmanos, não crentes e mórmons. Basta vir às ruas connosco para constatá-lo em primeira pessoa". "Isto deveria bastar para deixar claro que a liberdade de expressão se aplica a todos e não conhece cores políticas, religião ou orientação sexual. Quem é verdadeiramente livre de preconceitos não pode deixar de reconhecê-lo e de sair às ruas connosco".

No último Sábado, 22 de Março, as Sentinelas realizaram a sua manifestação silenciosa nas cidades italianas de Chiavari, La Spezia e Imperia. "Fizemos a nossa vigília em silêncio hoje para garantir a nossa liberdade de expressão de amanhã", encerra o comunicado. in Zenit


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“Uau!” Pedra por pedra na diocese de Madison, USA

por Fr. Z

Aqui está uma história de sucesso.
Numa pequena cidade de Fennimore, Wisconsin, o Pe. Miguel Galvez da Companhia de Jesus Cristo Sacerdote  implementou a restauração da Igreja de St. Mary.
Antes:
Depois:


Há um artigo sobre esta igreja e a consagração do altar no jornal diocesano, o The Catholic Herald.  Eis como começa
 “Uau!”
Esta foi a simples palavra de exclamação proferida por uma jovem rapariga enquanto entrava na Igreja de St. Mary em Fennimore numa recente manhã de Domingo.
Enquanto que as palavras usadas nesse dia pelas outras pessoas na igreja possam ter sido mais sofisticadas, os sentimentos eram provavelmente muito semelhentes ao da jovem rapariga.
Após entrarem na igreja naquele Domingo de manhã, os paroquianos e visitantes tiveram a oportunidade de ver o trabalho final de um projecto de restauração para trazer a igreja de volta ao seu design original de há mais de um século atrás.
[...]
A reacção da rapariga fala por tudo.
Ela reagiu ao interior da igreja como qualquer pessoa que não tenha a bagagem dos velhos dias do caos e iconoclastia pós-conciliar. Esta é a reacção de uma alma que está aberta àquilo que uma igreja deve comunicar: uma sensação de trascendência através da beleza, um design racional e coerência teológica e litúrgica.
É possível fazê-lo, pedra por pedra.


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quinta-feira, 27 de março de 2014

quarta-feira, 26 de março de 2014

Papa Francisco alerta para os bispos e sacerdotes que não rezam

Hoje na Audiência Geral, o Papa Francisco alertou para alguns erros dos bispos e padres, e pediu para os ajudarmos:

"O bispo que não reza, o bispo que não escuta a Palavra de Deus, que não celebra a Missa todos os dias, que não se confessa regularmente, e o mesmo para um sacerdote que não faz estas coisas, com o tempo perde a união com Jesus e vive uma mediocridade que não é boa para a Igreja.

Por isso devemos ajudar os bispos e os sacerdotes a rezar, a ouvir a palavra de Deus que é o alimento quotidiano, a celebrar diariamente a Missa e a confessar-se habitualmente. Isto é muito importante, porque tem a ver com a santificação dos bispos e sacerdotes."


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A Lei e os Profetas anunciam a Cristo - São Jerónimo

Quando leio o Evangelho e nele encontro testemunhos saídos da Lei ou dos Profetas, penso só em Cristo. Não leio Moisés nem os Profetas senão com a intenção de saber o que dizem eles de Cristo, uma vez que, tendo chegado ao esplendor de Cristo como à luz esplendorosa e brilhante do sol, não posso depois prestar atenção a uma lâmpada.

Se acendermos uma lâmpada em pleno dia, o que alumia ela? Ao sol, a luz duma lâmpada é invisível. Do mesmo modo, na presença de Cristo, desaparecem por completo a Lei e os Profetas. Não critico a sua existência, muito pelo contrário, até a enalteço, uma vez que a Lei e os Profetas anunciam a Cristo. Quando os leio, porém, a minha intenção não é ater-me ao que dizem mas, a partir do que dizem, chegar a Cristo.


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O que realmente se passou no Consistório sobre a Família

O Consistório extraordinário de dia 22 de Fevereiro, sobre a Família, deveria ser secreto. Mas ‘de cima’ decidiu-se que seria oportuno tornar pública a longa apresentação do Cardeal Walter Kasper sobre o tema da comunhão dos divorciados-recasados. Provavelmente em preparação para o Sínodo sobre a Família, em Outubro. 

Mas metade do Consistório permaneceu secreta: as intervenções dos cardeais. E talvez não tenha sido por acaso, visto que, depois do Cardeal Kasper ter feito a sua longa apresentação, se ergueram muitas vozes para a criticar. De tal modo que no início da tarde, quando o Papa lhe deu a oportunidade de responder, o purpurado alemão pareceu impaciente, e até irritado.      

A opinião comum é que o “teorema Kasper” permitirá que os divorciados-recasados possam comungar, sem que o matrimónio precedente seja considerado nulo. Actualmente  isto não é permitido; com base nas palavras de Jesus, bastante severas e explícitas em relação ao divórcio. Quem tem uma vida matrimonial completa, sem que o primeiro casamento tenha sido considerado nulo pela Igreja encontra-se, numa situação permanente de pecado.

Neste sentido (contra Kasper) falaram claramente alguns cardeais como o de Bolonha, Carlo Cafarra, assim como o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o alemão Gerhard Müller. Também explícito foi o Cardeal Walter Brandmüller:

Nem a natureza humana nem os Mandamentos nem o Evangelho têm data de validade…É preciso coragem para anunciar a verdade, mesmo contra os costumes correntes. Uma coragem que deve ter quem quer que fale em nome da Igreja, se não deseja trair a sua vocação…O desejo de obter a aprovação e os aplausos é uma tentação que sempre esteve presente no ensinamento religioso…

E de seguida tornou públicas as suas palavras. 

Também o presidente da conferência episcopal italiana, Angelo Bagnasco, se expressou de maneira crítica em relação ao “teorema Kasper”; assim como o cardeal africano Robert Sarah, responsável pelo Cor Unum, recordando no fim da sua intervenção que no decorrer dos séculos aconteceram divergências em questões dramáticas e controversas dentro da Igreja, mas que o papel do papado foi sempre o de defender a doutrina. 

O Cardeal Re, um dos grandes apoiantes de Bergoglio na sua eleição, fez uma intervenção muito breve, que se pode resumir deste modo: 

Peço a palavra durante um momento, porque aqui estão os novos cardeais, e talvez algum deles não tenha a coragem de dizê-lo, mas eu digo: sou totalmente contrário à apresentação.” 

Também o Prefeito da Penitenciaria, o Cardeal Mauro Piacenza se mostrou contrário à apresentação e dirigiu-se mais ou menos nestes termos: 

Estamos aqui neste momento e estaremos aqui em Outubro para um Sínodo sobre a Família, e agora devíamos fazer um Sínodo positivo, não vejo por que devemos tocar no tema da comunhão dos recasados. 

Querendo fazer um discurso pastoral, parece-me que devemos tomar uma posição contra o pansexualismo difundido pelo mundo e a agressividade da ideologia de género, que está a destruir a família tal como sempre a conhecemos. Seria providencial se fossemos lumen gentium  (luz das gentes) para explicar qual é a situação em que nos encontramos e o que pode destruir a família." 

Concluiu exortando a que se pegue nas catequeses do Papa João Paulo II sobre a Teologia do Corpo, porque contêm muitos elementos positivos sobre o sexo, o ser homem, o ser mulher , a procriação e o amor.

O Cardeal Tauran, do Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, expôs o tema dos ataques à família, também à luz das relações com o islão. O Cardeal de Milão, Angelo Scola, mostrou perplexidades teológicas e doutrinais (em relação à apresentação do Cardeal Kasper).

Muito crítico foi também o Cardeal Camillo Ruini, que acrescentou: 

Não sei se percebi bem, mas até este momento, cerca de 85% dos cardeais que estão aqui presentes mostraram-se contrários às conclusões da apresentação.” 

Disse ainda que entre aqueles que não se manifestaram, mesmo sem se saber qual a sua posição, parecia-lhe que o seu silêncio mostra que estão perturbados.

O Cardeal Ruini citou depois o Papa Bom (João XXIII), dizendo: 

Quando João XXIII fez o discurso de abertura do Concílio Vaticano II disse que se podia fazer um concílio pastoral porque felizmente a doutrina era aceite pacificamente por todos e não existiam controvérsias; portanto poderia fazer-se um caminho pastoral sem medo de ser mal-entendido, pois a doutrina era muito clara. Se naquele momento João XXIII tinha razão só Deus o sabe, mas aparentemente em boa parte talvez tenha tido. 

Hoje isto não se poderia dizer de modo absoluto, porque a doutrina não só não é compartilhada mas até combatida. Seria um erro fatal querer percorrer a estrada da pastoral sem se referir à doutrina.

É compreensível que o Cardeal Kasper parecesse um pouco irritado durante a tarde, quando o Papa Francisco lhe deu a oportunidade de responder, porém sem permitir que acontecesse um verdadeiro contraditório: apenas Kasper falou. Deve dizer-se que além das críticas ao “teorema Kasper” dentro do Consistório, estão a acontecer muitas mais, de modo privado junto do Papa, ou público, da parte de cardeais de todo o mundo. 

Cardeais alemães, que conhecem bem Kasper, dizem que este tema o apaixona desde os anos 70. O problema fez levantar bastantes vozes críticas porque este tema é muito explícito no Evangelho. Se isso fosse esquecido, este é o medo, tornaria as coisas muito instáveis, e poderia modificar-se a bel-prazer qualquer outro ponto da doutrina baseado nos evangelhos. Marco Tosatti in La Stampa


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terça-feira, 25 de março de 2014

A encarnação e a incineração

Hoje é dia da Anunciação, comemoramos o momento em que o próprio Deus Se fez tão pequeno, como já todos nós fomos, a ponto de poder estar dentro da barriga da mãe.

Esta feliz novidade, com mais de 2000 anos, contrasta com a notícia que milhares de bebés abortados foram incinerados nos hospitais do Reino Unido.

Segundo uma investigação do Channel 4, dez unidades de saúde admitem ter incinerado os corpos juntamente com o lixo hospitalar, enquanto duas dizem que os queimaram para gerar calor e assim aquecer os hospitais.

O maior crime no caso do aborto é que seja possível matar um bebé na fase mais frágil da sua vida, de modo legal e gratuito, em instalações e com pessoas que foram formadas para salvar vidas. Infelizmente dizer isto já não comove ninguém, todos dormimos tranquilos enquanto este genocídio silencioso decorre nos nossos países.

Mas pelos vistos este caso que veio a público ainda choca algumas pessoas, como o ministro da Saúde britânico, que se mostrou indignado. Isto parece-me um pouco incoerente: se um bebé na barriga da mãe não é vida humana, se não tem o direito a ver a sua vida defendida legalmente, porque é que interessa o que se faz com aquele "monte de células"? Alguém quer saber o que fazem quando nos tiram o apêndice, um quisto ou um cancro? Não, se der para produzir calorzinho tanto melhor.

É esta a Europa dos nossos dias, por um lado considera-se a guardiã dos direitos humanos, mas por outro permite e esconde as maiores barbáries feitas pelo Homem.

Avisem quando acharem que já fomos longe demais.

João Silveira


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Solenidade da Anunciação do Senhor

A Sun pillar over Sweden


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segunda-feira, 24 de março de 2014

Muçulmanos assassinam e crucificam um homem na Síria: "Julgamos as pessoas segundo a sharia"

Um homem foi assassinado no Sábado e depois crucificado, na Síria, em Raqqa, pelos homens do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Isil). Já há algum tempo que a cidade foi transformada num califato islâmico e a todos os habitantes, muçulmanos e cristãos, foi imposta a sharia (lei islâmica).

MORTO E CRUCIFICADO. O homem foi acusado de ter derrubado e assassinado um muçulmano. Por isto, os milicianos dispararam na cabeça primeiro e, depois, prenderam-no a uma cruz de madeira, que foi posta numa praça da cidade, onde ficará até à manhã de terça-feira 25. Sobre a sua cabeça puseram um cartaz onde se lê: "Este criminoso matou e derrubou um homem muçulmano".

EM NOME DA SHARIA. A notícia foi dada por fontes locais à agência de informação curda, Ara news. O Isil avisou todos os cidadãos de não tirar o cadáver da cruz até terça de manhã. Antes de matá-lo, o Isil fez ler, diante dos presentes na praça, esta mensagem: "Julgamos as pessoas e punimos segundo a sharia, que nos guia na responsabilidade de preservar os genuínos ensinamentos dos islão."

"PROIBIDO USAR A CRUZ". Os muçulmanos, desde que tomaram Raqqa, depois de terem destruído igrejas e cruzes e rasgados Bíblias, impuseram regras precisas a toda a população: os cristãos, se não querem ser mortos e não se querem converter ao islão, devem oferecer ao emir 13 gramas de ouro puro (pouco mais de 400€), como tributo humilhante (tributo previsto no Corão, obrigatório a partir do séc. VII, a ser aplicado aos 'infiéis"; aqueles que não conseguirem pagar são obrigados a converter-se ao islão). Todas as mulheres são obrigadas a usar o véu integral. É proibido fumar, ouvir música e também "usar a cruz, ou outros símbolos ligados à Bíblia, nos mercados ou praças onde estão os muçulmanos". Leone Grotti in tempi.it



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Os 3 pecados dos 'media': desinformação, calúnia e difamação - Papa Francisco


Para mim, os pecados dos ‘media’, os maiores, são aqueles que seguem o caminho da mentira, e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação. Estes dois últimos são graves, mas não tão perigosos como o primeiro. Porquê? Explico-vos. 

A calúnia é pecado mortal, mas pode-se esclarecer e chegar a saber-se que é uma calúnia. A difamação é um pecado mortal, mas pode-se chegar a dizer: ‘esta é uma injustiça, porque esta pessoa fez aquela coisa naquele tempo, mas depois arrependeu-se, mudou de vida’. 

Mas a desinformação é dizer apenas metade das coisas, aquilo que para mim é mais conveniente, e não dizer a outra metade. E assim, não posso fazer um juízo perfeito sobre aquilo que vejo na TV ou aquilo que escuto na rádio, pois não tenho os elementos todos, e não me dão esses elementos. 

Por favor fujam destes três pecados: desinformação, calúnia e difamação.

in Discurso à rede radiofónica e televisiva 'Corallo'


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domingo, 23 de março de 2014

Ser contra as uniões homossexuais não é julgar ninguém - Arcebispo da Nigéria explica

Há umas semanas publicámos aqui no Senza uma entrevista ao Arcebispo da Diocese de Jos, Nigéria, a propósito dos seus elogios ao projecto de lei do governo nigeriano contra as uniões legais de homossexuais.

Passsados alguns dias não faltaram críticas ao que D. Ignatius Kaigama disse, especialmente algumas mais maliciosas alegando que o que o Arcebispo nigeriano dizia era contra a famosa frase do Papa Francisco sobre os homossexuais "Quem sou eu para julgar?".

D. Ignatius foi entrevistado novamente e a sua resposta é uma boa explicação do que o que o Papa Francisco queria dizer com essa frase:

“É uma generalização enganosa e falsa concluir que por resistirmos ao 'casamento' do mesmo sexo divergimos do nosso Papa que disse: 'Se uma pessoa é gay e procura a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?' O Arcebispo continuou: "A nossa compaixão pelos fracos, os marginalizados e os que sofrem discriminação é inabalável e intransigente. Servimos a todos.” 
O Arcebispo da diocese de Jos explicou ainda mais: "Defendemos a promoção e protecção dos direitos humanos que são consistentes com os nossos valores religiosos e culturais. Legalizar o 'casamento' do mesmo sexo vai abrir as comportas da barragem a imensos problemas morais que podem seriamente pôr em risco a nossa cultura africana e enevoar os nossos esforços evangelizadores na Nigéria.” 
“Os Católicos nigerianos não odeiam os homens e mulheres que têm uma orientação biologicamente homossexual, mas afirmam com convicção que as uniões ou 'casamentos' homossexuais simplesmente não estão em conformidade com a nossa teologia Cristã ou com a moral tradicional da Nigéria.” 
A explicação do Arcebispo de Kaigama tornou-se necessária depois do ataque de certos grupos ao facto de a Conferência de Bispos Católicos da Nigéria (CBCN) ter elogiado o Presidente Goodluck Jonathan por assinar o projecto de lei contra o 'casamento' do mesmo sexo. ... “Quando a CBCN enviou a carta a elogiar o Presidente Goodluck Jonathan a propósito da sua posição contra as uniões ou 'casamento' do mesmo sexo, fizemo-lo para assegurar a moralidade bíblica e tradicional de século do nosso povo de que o casamento sempre foi uma união entre um homem e uma mulher. As uniões do mesmo sexo ou os chamados 'casamentos' são estranhos para nós e resistimos a essa ideia, mas vamos sempre estender a compaixão de Cristo a todos os homens e mulheres com uma orientação biológica que é gay ou lésbica e defender os seus direitos, tal como sempre defendemos os direitos de todas as pessoas discriminadas por aquilo que são.” 
Assim, o Arcebispo Kaigama diz a todos os "indivíduos, grupos de pressão e governos de fora que estão muito ansiosos para lutar pelos direitos dos gays na Nigéria" a "primeiro ajudar-nos a lidar com as actividades ameaçadores de terroristas que dizem que é seu direito matar e destruir e que causaram tantas mortes de nigerianos inocentes."


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Primeira entrevista a Bento XVI, Papa emérito


Desta vez, o Papa Francisco conseguiu. Bento XVI aceitou dar uma entrevista ao jornalista Wlodzimierz Redzioch, para um livro dedicado a João Paulo II. É um facto consumado. A entrevista já foi gravada e o texto já está na gráfica.


A editora garante que o livro vai estar em todas as bancas de Itália a tempo da canonização de João Paulo II, a 27 de Abril, e neste momento os jornalistas já têm autorização para espreitar as 256 páginas do livro. Isso quer dizer que os leitores deste jornal também estão autorizados a espreitar. Se gostam de leituras indiscretas, é só pedir.

Além da entrevista a Bento XVI, o livro reúne histórias únicas, verdadeiramente impressionantes, das pessoas mais próximas de João Paulo II. Mas como o espaço não dá para tudo, falemos só de Bento XVI.

Nos anos 60, o Bispo Karol Wojtyla e o Pe. Joseph Ratzinger estiveram no Concílio Vaticano II e trabalharam até no mesmo documento, a Constituição pastoral «Gaudium et spes», mas o Concílio era tão grande que nunca se encontraram.

Na década seguinte, já tinham lido trabalhos um do outro, e queriam conhecer-se pessoalmente, mas as oportunidades falhavam. Cruzaram-se finalmente no conclave que elegeu João Paulo I mas, logo a seguir, quando os bispos polacos foram à Alemanha, João Paulo I escolheu o Cardeal Ratzinger como seu representante pessoal para ir à República do Equador... e perdeu-se mais uma oportunidade.

Ratzinger recorda a categoria intelectual de Wojtyla, nos encontros prévios ao conclave de 1978. «Mas, sobretudo, − diz Bento XVI − imediatamente percebi com força o fascínio da sua personalidade e, vendo-o rezar, dei-me conta de que vivia profundamente unido a Deus».

Um capítulo divertido são os convites de João Paulo II, recém-eleito, pedindo a Ratzinger que fosse para Roma e as desculpas que ele dava, para não ir. Em 1980, perante a insistência de João Paulo II, Ratzinger começa finalmente a perceber que devia obedecer ao Papa, mas ainda pôs uma última condição, que lhe parecia impossível de aceitar. Só que João Paulo II concordou! E deste modo começou uma colaboração estreitíssima, durante mais de 20 anos.

Reuniões todas as semanas, almoços de trabalho que eram ao mesmo tempo momentos aprazíveis de amizade... Quantos projectos desenvolvidos em conjunto! Ainda por cima, João Paulo II conhecia muito bem a literatura alemã contemporânea, o que fazia as delícias do Cardeal Ratzinger. 

Salto as recordações de Bento XVI sobre os temas que teve de afrontar, por encargo e sob a orientação de João Paulo II: os equívocos da teologia da libertação, as dificuldades do ecumenismo, os assuntos de Moral, de Sagrada Escritura... Salto também a síntese que faz do magistério de João Paulo II. E os aspectos mais espirituais que Bento XVI testemunhou, relacionados com a Eucaristia, o sacerdócio e a devoção a Nossa Senhora... que o convenceram de que João Paulo II era verdadeiramente um santo.

Destaco apenas um pequeno parágrafo, a meio de uma resposta:

− «[João Paulo II] era de uma bondade extraordinária e de uma enorme compreensão.

Muitas vezes teria tido motivos suficientes para culpar-me ou para pôr fim à minha função de Prefeito [da Congregação para a Doutrina da Fé] e no entanto apoiou-me sempre com uma fidelidade e uma simpatia absolutamente inexplicáveis. Deixe-me dar-lhe um exemplo. Depois da agitação que a Declaração “Dominus Iesus” originou, disse-me que, na alocução do “Angelus”, ia defender inequivocamente o documento. Pediu-me que escrevesse um texto firme, definitivo, que eliminasse qualquer margem para dúvidas. Ele queria que ficasse perfeitamente claro que aprovava incondicionalmente o documento. Preparei um breve discurso, evitando ser demasiado brusco, procurando ser claro, sem dureza. Quando o leu, o Papa ainda me perguntou: “Isto é suficiente para acabar completamente com as dúvidas? ”. Eu achei que sim. (...) Mas, houve logo quem dissesse que o Papa tinha querido distanciar-se do texto».

Afinal, cabem mais duas linhas:

− «A minha recordação de João Paulo II é plena de gratidão. Não podia nem devia tentar imitá-lo, mas procurei continuar a sua herança e a sua missão o melhor que pude. Por isso estou seguro de que ainda hoje a sua bondade me acompanha e a sua bênção me protege».

José Maria C. S. André in Correio dos Açores (16/III/2014)


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sábado, 22 de março de 2014

Estávamos doentes, sem esperança de cura - S. Agostinho

Na verdade, meus irmãos, aquilo que Deus prometia parecia inacreditável aos homens: que, a partir deste estado mortal em que são corruptíveis, desprezíveis, fracos, pó e cinzas, se tornariam iguais aos anjos de Deus! Foi por isso que Deus não Se limitou a estabelecer com os homens o contrato das Escrituras para que acreditassem, mas optou por um mediador e garante da sua fé: e não foi um príncipe, nem um anjo, nem um arcanjo, mas o Seu Filho único. 

Assim, através do Seu próprio Filho, mostrou-nos o caminho pelo qual nos conduziria ao fim que nos havia prometido. Porém, para Deus era pouco o Seu Filho mostrar-nos o caminho; assim, Deus fez dele o caminho (Jo 14,6), que tu seguirás sob a Sua direcção, o caminho que trilharás.


Como estávamos longe dele! Ele tão acima e nós tão em baixo! Estávamos doentes, sem esperança de cura. Foi enviado um médico, mas o doente não o reconheceu, pois «se de facto O tivessem conhecido não teriam crucificado o Senhor da glória» (1Cor 2,8). Mas a morte do médico foi o remédio do doente; o médico tinha vindo visitá-lo e morreu para o curar. 

Ele fez entender aos que acreditaram nele que era Deus e homem: Deus que nos criou e homem que nos recriou. Uma coisa era visível nele, a outra estava oculta; e o que estava oculto era muito mais importante do que o que se via. […] O doente foi curado pelo que estava visível para se tornar capaz de ver plenamente mais tarde. Ocultando esta visão suprema, Deus diferia-a, não a recusava. 

in Homilias sobre os salmos, Sl 109


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Papa Francisco diz aos mafiosos que se não se converterem espera-os o inferno

Por favor, mudai de vida, convertei-vos, parai, cessai de fazer o mal! Nós rezamos por vós. Convertei-vos, peço-o de joelhos; é para o vosso bem. Essa vida que levais não vos dará prazer, não vos dará alegria, não vos dará felicidade. 


O poder, o dinheiro que haveis conseguido através de negócios sujos, de tantos crimes mafiosos, é dinheiro de sangue, é poder de sangue, e não podereis levá-lo para a outra vida. 


Convertei-vos, ainda é tempo, para não que não acabeis no inferno. É o que vos espera se continuardes nesse caminho. Vós tivestes um pai e uma mãe: pensai neles. Chorai um pouco e convertei-vos.



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sexta-feira, 21 de março de 2014

Texto dedicado a Fernando Ribeiro e Castro: Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso

 A grande dívida

Portugal tem uma dívida muito maior do que aquela de que se fala habitualmente. E é de justiça que tome consciência disso. Mais ainda, somente aproveitará e se recomporá se a reconhecer, agradecer e corresponder a quem tanto fez por nós.


Deus suscitou entre nós um generoso guerreiro que, como S. Paulo, combateu o bom combate – um valente, um bravo, cheio de Fé e de audácia – com uma inteligência perspicaz, uma capacidade de liderança singular e uma habilidade organizadora exímia. Exemplar na luta pela Justiça, um modelo de Caridade e de Misericórdia. Não só cuidou dos feridos como intrepidamente, na linha da frente, se opunha aos exércitos do Maligno para que não fizessem mais vítimas.


Num tempo em que tantíssimos poderosos se têm empenhado feroz e encarniçadamente contra a vida, o matrimónio, a família, a liberdade de educação, o cristianismo (e outros tantos covardes ou indiferentes se demitem da sua humanidade e da sua Fé), raros, se é que alguém, como ele se entregou com tamanha generosidade e competência à defesa, consolidação e promoção destes princípios inegociáveis que são os fundamentos do Bem-comum, da sociedade e da política, no seu sentido mais nobre.


Deus que tanto lhe deu para acudir a tantos não o poupou, como a Seu Filho, à Cruz. Assim como durante a maior parte da sua vida o fez participante dos Mistérios da Sua vida pública, nos últimos tempos quis fazê-lo participante da Sua Paixão em favor da nossa Salvação. Nestes tempos de grande configuração ao Crucificado poderíamos aplicar-lhe, analogicamente, o que o P. António Vieira disse de Cristo crucificado: “Nunca fez tanto, como quando nada fez”. 

Tenho para mim, sem a pretensão de me antecipar ao juízo da Igreja, que o Fernando Castro, que Deus ontem chamou a Si, participa já da Sua Glória; e que com a sua intercessão nos fortalecerá para continuarmos a missão que com tanta bondade e verdade desempenhou.

Deus compadecido das nossas misérias deixou-nos a Leonor (das Dores), sua mulher, e uma trezena de filhos para nos continuar a favorecer com as Suas Graças. À honra e glória de Cristo. Ámen. 

Pe. Nuno Serras Pereira


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Apontamentos para o tempo da Quaresma - D. Luigi Giussani

Quaresma é o momento da educação a tornarmo-nos como Deus nos quer. 

Um tempo de mortificação, que não é uma nossa habilidade ascética. A mortificação é um desabituarmo-nos do mal. Quanto mais estamos atentos, mais nos damos conta que o nosso pecado é grande. Daqui nasce o equívoco acerca de uma nossa incapacidade: um desespero que tem a mesma raiz da presunção.

De facto, a conversão nasce do encontro contínuo com Cristo. O modo com o qual Ele provoca a nossa conversão não o podemos prever. A Páscoa é o fim imprevisível da Quaresma.

O pecado torna-se a maior mentira quando não existe vigilância. A vigilância é: recomeçar sempre com Deus, e não buscar com as próprias forças a perfeição moral.

A verdadeira vigilância exprime-se assim: "Dá-me o tempo para que eu te possa invocar" (St. Agostinho).

A Quaresma é então o tempo desta consciência: existimos só com a sua ajuda. A ânsia, e a preocupação na vida são o sinal da mesma dureza dos Fariseus. A doçura no julgar-se a si e aos outros, vem só de ter o olhar em Deus, do apoiar-se n´Ele.

É então preciso como dote fundamental a simplicidade: seguir e basta.

Nós pelo contrário, pecamos, a maioria das vezes contra a própria simplicidade: tendemos a conceber a nossa vocação como queremos nós. Podemos chegar a experimentar irritação contra Deus que não faz a nossa vontade. Cai-se numa chantagem subtil que complica a vida. E no entanto, na forma mais dolorosa da prova (quando Ele parece que não responde àquilo que nós esperamos) descobre-se o factor maior da educação: a atenção ao essencial, porque nos chama a Ele. As provas são uma educação ao essencial.

Por estes motivos, a Quaresma é o tempo da segurança; o tempo do amor, porque percebemos que alguém nos ama. Está-se livre de todo o peso, em virtude do perdão. Penetra em nós a letícia de nos sabermos objecto da sua salvação.

Podemos olhar-nos a nós próprios com esperança. Esse é o verdadeiro jejum, porque implica olhar só para Ele. Só para Ele que nos salva. Por isso penitência e jejum são muito mais o realizar-se do amor do que o privar-se de algo.


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