terça-feira, 30 de abril de 2013

Carta de D. Oscar Romero a pedir a beatificação de São Josemaria


Uma carta escrita ao Papa pelo Bispo salvadorenho Dom Oscar Romero, a 12 de Julho de 1975, solicitava a abertura do processo de beatificação de São Josemaria. O documento não apenas revela a profunda amizade de Oscar Romero com Escrivá, mas também, e principalmente, mostra as prioridades na vida apostólica e espiritual do prelado. Eis a carta:

"Beatíssimo Padre,

Considero o dia ainda recente da morte do Monsenhor Josemaria Escrivá de Balaguer como uma contribuição para a maior glória de Deus e para o bem-estar das almas, e, por isso, solicito a Vossa Santidade a rápida abertura da causa de beatificação e canonização de tal eminente sacerdote.

Tive a sorte de conhecer Escrivá de Balaguer pessoalmente e de receber dele o apoio e força para ser fiel à doutrina inalterável de Cristo e de servir com zelo apostólico à Santa Igreja Romana e esta terra de Santiago de Maria, que Vossa Santidade me confiou.

Conheço faz muito tempo o trabalho do Opus Dei aqui em El Salvador, e posso testemunhar o sentido sobrenatural que o anima e a fidelidade ao magistério eclesiástico, que caracteriza este trabalho.

Pessoalmente, devo profunda gratidão aos padres envolvidos, a quem eu confio, com muita satisfação, a direção espiritual de minha vida e a de outros sacerdotes.

Pessoas de todas as classes sociais encontram no Opus Dei uma orientação segura para viver como filhos de Deus no meio diário na sua família e nas obrigações sociais. E isto é, sem dúvida, devido à vida e à doutrina de seu fundador.

Neste mundo tempestuoso, invadido por insegurança e dúvida, a excelente fidelidade doutrinária que caracteriza o Opus Dei é um sinal da graça especial de Deus.

Monsenhor Escrivá de Balaguer foi capaz de unir, na sua vida, um contínuo diálogo com Nosso Senhor e uma grande humanidade. Alguém poderia dizer que ele era um homem de Deus e que a sua maneira de ser estava impregnada de sensibilidade, gentileza e bom humor.

Há muitas pessoas que, desde o momento de sua morte, estão privadamente confiando-lhe as suas necessidades.

Beatíssimo Padre, humildemente repito o meu pedido de uma abertura rápida da causa de beatificação e canonização de Josemaría Escrivá de Balaguer, para a maior glória de Deus e para a edificação da Igreja.

Com afeto filial e submissão, beijo vosso anel.
Oscar Romero"

adaptado de: acarajeconservador.blogspot.it


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Frase do dia

“E se, muitas vezes, tenho o rosto voltado para o chão e as lágrimas correm com abundância, ao mesmo tempo a minha alma está repleta duma profunda paz e felicidade.” 

Santa Faustina (Diário, 1394)


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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Mamom - Padre Nuno Serras Pereira

Depois da minha Ordenação Sacerdotal, em 1986, fui enviado para Coimbra com a finalidade de exercer o ministério, principalmente, na nossa Igrejinha. Aí homiliei, sobretudo nas Missas Dominicais, durante quatro anos. Um assunto que me perturbava, desde uns anos antes, tinha a ver com o impressionante fascínio sedutor, senão mesmo hipnótico, que as pregações dos políticos e os pronunciamentos de boa parte de membros da Igreja, exercia sobre as almas. 

Tudo aquilo estava nimbado de uma nova religiosidade: Os fautores da união eram novéis Moiséses, melhor, definitivos salvadores, que nos conduziam à nova terra prometida, ao paraíso neste mundo, o único existente. Daí escorria leite e mel, isto é, dinheiro a jorros, garantindo-nos uma abundancia tal que infundiria em todos uma felicidade perfeita. 


A generalidade dos cidadãos, e não poucos prelados, indiferentes aos princípios inegociáveis, aos absolutos morais, aos valores essenciais e à sua justa jerarquia, votavam com a carteira, com o multibanco, em busca da riqueza sonhada, não obstante os insistentes avisos e exortações homiléticas de um resto, mínimo, que por ter a Graça de ver e escutar os sinais dos tempos se recusava, por virtude do Espírito Santo, a emudecer. 


Era preciso ser cego e surdo, ou estar magnetizado, para não perceber a inversão perversa e enganadora da Fé verdadeira. O diabo, esse grande invertido, macaqueia, com sofisticado requinte, a obra de Deus, mas deixa sempre um fedor a enxofre, que deixa nauseados aqueles que não vivem na imundície.



A cobiça, essa deusa de beleza luciferina, subtilmente enganadora, dominava soberana e implacável. Para alcançar e gozar do “tudo isto te darei” (Mt 4, 9) era imprescindível dar provas iniciais da maturidade de uma democracia relativista e, portanto, meramente formal, instituindo o divórcio, impregnando a mentalidade contraceptiva, aprovando, como brecha primeira, a legalização do aborto provocado. Deste modo, uma substancial tirania se implantou e consolidou em nome, precisamente, da sobredita democracia. Tudo isso foi feito sem sobressaltos de maior.


Transformados efusivamente em orgiásticos adoradores do deus Mamom (dinheiro) entregámo-nos ebrifestivamente a uma vertiginosa avidez insaciável com o consequente fúnebre cortejo de crueldades que sempre o acompanham: deseducação sexual nas escolas, liberalização do aborto, reprodução artificial, experimentação letal em pessoas no seu estado embrionário, asfixia da liberdade religiosa, pseudocasamento entre pessoas do mesmo sexo, com concomitante adopção pela figura do apadrinhamento, divórcio expresso sem culpa. Mamom sempre foi desapiedado, desconhecendo em absoluto a Misericórdia.


Inclementes e desalmados para com os inocentes e os mais vulneráveis, imploramos agora socorro, compaixão e beneficência para com as nossas aflições monetárias… A verdade é que se não nos convertermos pereceremos todos igualmente (cf Lc 13, 1-3); e, pior ainda, seremos julgados sem misericórdia (cf Tg 2, 13). Mas a misericórdia triunfa sobre o juízo! Enquanto não chega a morte corporal, que tantas vezes é súbita e imprevista, estamos sempre - e este sempre significa agora, já que logo pode ser tarde -, a tempo, assim Deus conceda a Sua Graça, que a ninguém a recusa, de nos arrependermos e a Ele, Infinitamente Misericordioso, nos convertermos (Mt 25, 31-46).


NOTA BENE: Este texto não cuida de análises políticas (no significado ordinário que é dado a este vocábulo) nem económico-financeiras, matérias que não são da minha competência. Reflexiono, tão só, naquilo que diz respeito ao meu ministério.


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domingo, 28 de abril de 2013

Mal, dor, sofrimento = Deus não existe? C.S. Lewis responde




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Homilia do Papa Francisco, hoje na Missa com o Rito da Confirmação

Amados irmãos e irmãs! Queridos crismandos! Bem-vindos!

Gostaria de vos propor três pensamentos, simples e breves, para a vossa reflexão.

1. Na Segunda Leitura, ouvimos a estupenda visão de São João: um novo céu e uma nova terra e, em seguida, a Cidade Santa que desce de junto de Deus. Tudo é novo, transformado em bondade, em beleza, em verdade; não há mais lamento, nem luto... Tal é a acção do Espírito Santo: Ele traz-nos a novidade de Deus; vem a nós e faz novas todas as coisas, transforma-nos. O Espírito transforma-nos! E a visão de São João lembra-nos que todos nós estamos a caminho para a Jerusalém celeste, a novidade definitiva para nós e para toda a realidade, o dia feliz em que poderemos ver o rosto do Senhor – aquele rosto maravilhoso, tão belo do Senhor Jesus –, poderemos estar para sempre com Ele, no seu amor.

Olhai! A novidade de Deus não é como as inovações do mundo, que são todas provisórias, passam e procuram-se outras sem cessar. A novidade que Deus dá à nossa vida é definitiva; e não apenas no futuro quando estivermos com Ele, mas já hoje: Deus está a fazer novas todas as coisas, o Espírito Santo transforma-nos verdadeiramente e, através de nós, quer transformar também o mundo onde vivemos. Abramos a porta ao Espírito, façamo-nos guiar por Ele, deixemos que a acção contínua de Deus nos torne homens e mulheres novos, animados pelo amor de Deus, que o Espírito Santo nos dá. Como seria belo se cada um de vós pudesse, ao fim do dia, dizer: Hoje na escola, em casa, no trabalho, guiado por Deus, realizei um gesto de amor por um colega meu, pelos meus pais, por um idoso. Como seria belo!

2. O segundo pensamento: na Primeira Leitura, Paulo e Barnabé afirmam que «temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus» (Act 14, 22). O caminho da Igreja e também o nosso caminho pessoal de cristãos não são sempre fáceis, encontramos dificuldades, tribulações. Seguir o Senhor, deixar que o seu Espírito transforme as nossas zonas sombrias, os nossos comportamentos em desacordo com Deus e lave os nossos pecados, é um caminho que encontra muitos obstáculos fora de nós, no mundo, e dentro de nós, no coração. Mas, as dificuldades, as tribulações fazem parte da estrada para chegar à glória de Deus, como sucedeu com Jesus que foi glorificado na Cruz; aquelas sempre as encontraremos na vida. Não desanimeis! Para vencer estas tribulações, temos a força do Espírito Santo.

3. E passo ao último ponto. É um convite que dirijo a todos, mas especialmente a vós, crismandos e crismandas: permanecei firmes no caminho da fé, com segura esperança no Senhor. Aqui está o segredo do nosso caminho. Ele dá-nos a coragem de ir contra a corrente. Sim, jovens; ouvistes bem: ir contra a corrente. Isto fortalece o coração, já que ir contra a corrente requer coragem e Ele dá-nos esta coragem. Não há dificuldades, tribulações, incompreensões que possam meter-nos medo, se permanecermos unidos a Deus como os ramos estão unidos à videira, se não perdermos a amizade com Ele, se lhe dermos cada vez mais espaço na nossa vida. 

Isto é verdade mesmo, e sobretudo, quando nos sentimos pobres, fracos, pecadores, porque Deus proporciona força à nossa fraqueza, riqueza à nossa pobreza, conversão e perdão ao nosso pecado. O Senhor é tão misericordioso! Se vamos ter com Ele, sempre nos perdoa. Tenhamos confiança na acção de Deus! Com Ele, podemos fazer coisas grandes; Ele nos fará sentir a alegria de sermos seus discípulos, suas testemunhas. Apostai sobre os grandes ideais, sobre as coisas grandes. Nós, cristãos, não fomos escolhidos pelo Senhor para coisinhas pequenas, ide sempre mais além, rumo às coisas grandes. Jovens, jogai a vida por grandes ideais!

Novidade de Deus, tribulação na vida, firmes no Senhor. Queridos amigos, abramos de par em par a porta da nossa vida à novidade de Deus que nos dá o Espírito Santo, para que nos transforme, nos torne fortes nas tribulações, reforce a nossa união com o Senhor, o nosso permanecer firmes n'Ele: aqui está a verdadeira alegria. Assim seja.


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sábado, 27 de abril de 2013

Os guardas suiços também se casam




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A hipótese que não existe - Padre Gonçalo Portocarrero de Almada

Conta-se que um nosso contemporâneo tinha péssima voz e ainda pior ouvido. Inconsciente das suas incapacidades canoras e auditivas, arriscava as mais arrojadas escalas, com terríveis resultados. Numa ocasião, um desesperado ouvinte, com escassa predisposição para o martírio, não aguentou mais e gritou-lhe:

- Cale-se! Essa nota não existe!

Uma nota inexistente é, como é óbvio, uma contradição nos termos, mas serve como exemplo de uma hipótese inexistente, como é a tese de que, negando a divindade de Cristo, também o não quer condenar, afirmando que era um bom homem. Ora acontece que, em termos meramente racionais ou lógicos, essa é a única hipótese que não existe.

A historicidade de Jesus de Nazaré não pode ser honestamente posta em causa, mas só os cristãos estão dispostos a reconhecer-lhe a condição divina que a sua fé afirma. Ateus, agnósticos e crentes de outras religiões não o têm por Deus, mas talvez também não por um impostor. Com efeito, até os mais incrédulos são sensíveis à beleza e à sabedoria dos seus ensinamentos e à exemplaridade da sua vida e por isso seguramente estariam dispostos a afirmar que Cristo foi um bom homem, sem se aperceberem da contradição de uma tal conclusão.

Com efeito, a personagem, que a história sagrada e profana conhece como Jesus de Nazaré disse ser Deus e, como tal, não só realizou prodígios - os milagres de que falam os Evangelhos - como aceitou ser adorada pelos homens. Uma tal afirmação só admite duas possibilidades: ser verdadeira ou falsa. Em nenhum dos casos, contudo, é compatível com a tal hipótese de Jesus ser apenas um homem bom.

De facto, se é verdade que Cristo é Deus, Jesus não foi simplesmente um homem bom, mas o ser divino, o próprio Deus encarnado, como afirma a fé cristã. A alguém que o chamou bom Mestre, Ele próprio disse que só Deus é bom. Mas nunca nenhum homem bom se atribuiu a si mesmo a condição divina. S. Paulo, quando confundido com uma divindade pagã, não permitiu que lhe fosse prestado culto. E S. João, quando se quis prostrar diante do anjo que se lhe revelou, foi por este admoestado, porque só a Deus é devida adoração. A mesma que Jesus de Nazaré recebeu e aceitou dos seus discípulos, precisamente por ser Deus. Se o não fosse, uma tal veneração teria sido idolátrica e, como tal, digna da pena capital.

Mas se Cristo não é Deus, tendo dito que o era, só poderia ser um mentiroso. Não cabe a hipótese de que fosse um alienado e, como tal, inimputável, porque nesse caso ninguém do seu tempo, ou depois, o teria tomado a sério, nem para o seguir nem para o condenar. Mas, se fosse de facto uma pessoa falsa, não seria decididamente um homem virtuoso, mas um blasfemo. Foi aliás por esta razão que foi condenado à morte pelo sinédrio. Tinham razão os que exigiram a sua morte, como réu confesso de tamanha ofensa à verdade e à dignidade divina?!

Ante Cristo, só cabem três atitudes: a indiferença dos néscios, o ódio ou a adoração. Os primeiros, como as avestruzes, enterram a cabeça na areia, abdicando da sua condição racional. Os outros, por força da razão, ou reconhecem que Jesus de Nazaré é Deus ou só podem tê-lo por um impostor. A cómoda hipótese do Jesus bonzinho, que daria tanto jeito aos que não se querem comprometer, porque o não querem seguir, nem condenar, pura e simplesmente não existe, como a desafinada nota do mau cantor.

Ou se entende que Cristo é um falsário e um mentiroso e, consequentemente, é justa e razoável a exigência da sua condenação, ou se aceita a sua divindade e se cai a seus pés, confessando: meu Senhor e meu Deus! in jornal i


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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Frase do dia

"Não nos podemos esquecer de que seremos apresentados a Deus no juízo final da maneira como a morte nos encontrar!" 

S. Pio de Pietrelcina


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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Frase do dia

"O meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me contudo à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história." 

Papa Bento XVI, na Missa de início do seu Pontificado (24/IV/2005)


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terça-feira, 23 de abril de 2013

Papa Francisco, hoje no dia de S.Jorge (o seu onomástico)

“A identidade cristã não é um bilhete de identidade. É uma pertença à Igreja, à Igreja mãe porque encontrar Jesus fora da Igreja não é possível. O grande Papa Paulo VI dizia: 'é uma dicotomia absurda querer viver com Jesus sem a Igreja, seguir Jesus fora da Igreja, amar Jesus sem a Igreja'. E é aquela Igreja mãe quem nos dá Jesus: dá-nos a identidade que não é apenas um carimbo é uma pertença.”


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«Vocês são loucos?» Testemunho do casal Inmaculada e Jano Ripoll

Tiveram de suportar a incompreensão de muitos, mas hoje podem olhar para trás e agradecer a Deus uma vida matrimonial e familiar plena. Na Segurança Social quiseram convencê-los a que ela fizesse uma laqueação de trompas, e expulsaram-nos chamando-os integristas.

Muitos também não perceberam que tivessem autorizado a filha Esther a ser freira de clausura...Este é a "oração/testemunho" que o casal Ripoll, do Caminho Neo-catecumenal, e a filha Elena, deram durante a festa do Corpo de Deus, em Madrid.

Inmaculada: Quantas vezes te perguntei: «Mas o que é que queres? Porque nos dás tantos filhos? Porquê o desemprego, agora? Porquê o cancro do menino? Que difíceis foram as gravidezes dos sete! Cinco nasceram de cesariana. E cada um vinha com um sofrimento acrescentado, porque éramos atacados: na família, no trabalho... Mesmo em ambientes que se diziam cristãos éramos atacados pelos médicos.

Jano: Senhor, em cada nova gravidez havia médicos que me tratavam como se fosse um assassino, e perguntavam-me: «Está cá outra vez? Mas o que é que você quer, quer matar a sua mulher?» E fomos expulsos da Segurança Social porque nos negámos a assinar um papel que autorizava a laquearem as trompas à Inma. Chamaram-nos integristas e não sei quantas coisas. Resolvemos ir a um ginecologista com sentido cristão, e decidimos seguir os Teus planos, embora - perdão, Senhor: às vezes também nós não nos entendíamos. Seis raparigas e, no fim, um rapaz. Eu não esperava, e os Teus planos espantavam-me.

Inmaculada: Os filhos foram crescendo. Os problemas das fraldas tornaram-se revolta. Uma das nossas filhas, a Esther, quando estudava Enfermagem, passou momentos difíceis. Aconselhámos que fosse descansar uns dias à hospedaria de um convento de clausura. Antes de ir, disse-nos que ia com a ideia de mostrar às freiras que Deus não existia: que Tu, Senhor, não existias! E alguns meses depois, não só Te encontrou, como se decidiu a ser freira e entrar no convento das clarissas de Lerma.

Jano: O escândalo rebentou de novo! «Então vocês vão deixá-la ir, agora que está na plenitude da vida? Vocês estão loucos?» Embora a nós, pai e mãe, nos custasse muito, sabíamos, Senhor, que essa era uma nova forma de nos abençoares. Ano e meio depois, a Esther tomou o hábito.

Inmaculada: Nesse dia, durante a cerimónia, as minhas filhas Raquel e Berta encontraram a resposta. Deram nome ao desejo mais profundo do coração e decidiram seguir o caminho da irmã. Depois do discernimento oportuno, pouco tempo de pois, já tínhamos três filhas freiras de clausura. É coisa que se diz depressa, Senhor. A nossa filha Inma estava no Uruguai, fazendo um voluntariado, e informava-se de tudo por telefone. Voltou para assistir à entrada da Raquel no convento..., e o seu coração reconheceu que também esse era o seu lugar. Pediu conselho espiritual, e um sacerdote: «O melhor é que vás 'apanhar Sol'"». Ela percebeu, e foi apanhar Sol diante do Sacrário, onde estás Tu, o Sol do mundo, que dá a verdadeira luz, o calor e a cor às nossas vidas.

Jano: E também decidiu entrar no convento. Era coisa que já nos fazia rir. Quatro filhas, freiras de clausura! E mais incompreensão à nossa volta. Quantas horas estivemos diante de Ti, na Eucaristia! Foram anos muito duros, vividos também com muita alegria. Mas a história não acaba aqui. A nossa filha Elena terminou, na semana passada, o curso de Educadora de Infância, e no sábado ingressa no convento. Depois de tudo, vamos ficar com o casal, com Mar e com Alejandro, que estão hoje aqui a agradecer-te.

Inmaculada: Senhor, custa-nos muito, mas sentimo-nos profundamente agradecidos pelo dom maravilhoso de ter 5 filhas entregues a Deus. Sabes que os nossos planos não tinha nada a ver com isto. Queríamos que casassem e sonhávamos ter muitos netos. Mas são as mulheres mais felizes do mundo! É espantoso. Maria ensina a entregá-las a Ti de novo todos os dias.

Jano: Agora, Senhor, diz-nos o que é havemos de fazer com a furgoneta? Que havemos de fazer com a casa, que antes era pequena, e que agora ficou grande? Mas diz o salmo: Alegra-me a minha herança, como pagarei ao Senhor todo o bem que me fez?


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segunda-feira, 22 de abril de 2013

A democracia na Igreja

Na altura do conclave, surgiram, aqui e acolá, pleitos por “maior democracia” na Igreja. Havia os que afirmavam que o modelo actual, “monárquico absolutista”, deve acabar. É necessária, diziam, uma descentralização do poder romano. Quando leio ou ouço esses argumentos, pergunto-me: qual é a ideia que tais pessoas nutrem a respeito da Igreja? A Igreja católica, composta de clérigos (diáconos, padres e bispos) e de leigos (cristãos comuns), é uma sociedade totalmente alicerçada na pessoa do seu divino fundador, Jesus Cristo. 

A mensagem católica é imutável, porque Deus e a sua doutrina são imutáveis. O Papa, que faz as vezes de Jesus (vigário de Cristo), apenas comunica o Evangelho. Todo o manancial de encíclicas, constituições apostólicas, decretos etc., emanados do Sumo Pontífice, constituem apenas uma explicitação ou actualização da Boa-Nova anunciada por Jesus. Tanto quanto possível, traz-se Jesus à contemporaneidade, por intermédio do magistério papal. A Igreja, ao longo destes dois mil anos de História, não inventou doutrinas, apenas cumpre a excelsa missão  de propor à humanidade os valores morais do cristianismo, vindos do Fundador. Além disso, a Igreja administra os sete sacramentos, todos instituídos por Jesus; nenhum pela Igreja. 

Será que os indigitados “democratas” acham possivel dividir a potestade do Sucessor de Pedro com alguns prelados, ou, ainda, que os bispos reunidos em concílio ecuménico, ou mesmo isoladamente, deliberem sem o Papa, no que respeita à fé e aos costumes? Ou, então, hipótese mais esdrúxula: que, “democraticamente”, se discutam dogmas “ultrapassados”. Tudo isto é um absurdo! O modelo jurídico da Igreja é obra de Jesus Cristo. Aliás, não existe nada mais bíblico que a hierarquia eclesiástica. Basta compararmos o relacionamento hodierno entre o Papa e os bispos com as interações que havia entre o apóstolo Pedro e os outros apóstolos, narradas nas escrituras santas. 

Depois da morte e ressurreição de Jesus, nada de importante se fazia sem o beneplácito de Pedro, que era, indiscutivelmente, o chefe do grupo. Nos Estados é extremamente salutar que o poder advenha do povo (democracia). Desta feita, a Igreja, através da sua doutrina social, é a instituição do planeta que mais defendeu e defende o regime democrático para as sociedades políticas. No seio da Igreja, também pode e deve medrar a democracia, quando, por exemplo, os católicos de uma diocese elegem as prioridades pastorais (saúde, moradia, emprego). 

Na Igreja, determinados assuntos não são objecto do crivo “democrático”, mas do crivo divino. Nesse sentido, por exemplo, o parecer negativo sobre a homossexualidade apoia-se directamente nos ensinamentos de Jesus, bem como na sagrada Tradição e na Bíblia. O mesmo ocorre com o aborto, a indissolubilidade do casamento ou com o uso de pílulas anticoncepcionais, ou, ainda, com a ordenação de mulheres. 

A Igreja, precipuamente, por meio do novo Papa, continuará a vociferar um non possumus diante de petições desse jaez. Não é tanto não querer; é não poder alterar o “depósito da fé”, as cláusulas pétreas do catolicismo. Questões distintas são o alargamento do diálogo, a disponibilidade para parlamentar com não católicos e agnósticos. É mister, igualmente, descobrir novas formas de proclamar o Evangelho. Pode-se, igualmente, perscrutar com maior profundidade certas situações na Igreja, como a dos católicos em segunda união nupcial. Estes pontos, sim, têm de evoluir! Não é a doutrina da Igreja católica que deve mudar! É a humanidade que necessita se converter a Cristo, a fim de que haja vida abundante para todos (Jo 10,10). Edson Sampel in Zenit


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Frase do dia

"Pecaria por ingenuidade quem imaginasse que as exigências da caridade cristã se cumprem facilmente. É bem diferente o que nos diz a experiência, quer no âmbito das ocupações habituais dos homens, quer, por desgraça, no âmbito da Igreja. Se o amor não nos obrigasse a calar, cada um de nós teria muito que contar de divisões, de ataques, de injustiças, de murmurações e de insídias. 

Temos de o admitir com simplicidade, para tratar de aplicar, pela parte que nos corresponde, o remédio oportuno, que se há-de traduzir num esforço pessoal por não ferir, por não maltratar, por corrigir sem deixar ninguém esmagado." 

S. Josemaria Escrivá


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domingo, 21 de abril de 2013

Basílica de S.Pedro: ordenações sacerdotais com o Papa Francisco

"Quanto a vós, irmãos e filhos dilectíssimos, que estais prestes a receber a ordem do presbiterado, considerai que, exercitando o ministério da Sagrada Doutrina, sereis participantes da missão de Cristo, único Mestre. Proclamai a todos a Palavra de Deus que vós mesmos haveis recebido com alegria. Recordai-vos das vossas mães, das vossas avós, das vossas catequistas, que vos levaram a palavra de Deus, a fé… o dom da fé! Transmitiram-vos este dom da fé. 

Lede e meditai assiduamente a Palavra do Senhor, para que acrediteis naquilo que haveis lido, para ensinardes aquilo que haveis aprendido da fé, e para viverdes aquilo que haveis de ensinar. Lembrai-vos também que a Palavra de Deus não é propriedade vossa: é Palavra de Deus. E a Igreja é a guardiã da Palavra de Deus."


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sábado, 20 de abril de 2013

O Papa Francisco e o Diabo

Também hoje (17 de Abril) o Papa voltou a falar do demónio, e por duas vezes: na Missa da manhã e na catequese das Quartas-Feiras.

Na homilia da manhã sublinhou expressamente o milagre do exorcismo referido na passagem dos Actos dos Apóstolos. Leu-se em news.va e, por outro lado na Radio Vaticano, a frase é só citada até ao ponto de exclamação, omitindo a citação bíblica:
E faziam também milagres! "De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos e numerosos paralíticos e coxos foram curados."
Mais tarde, na catequese sobre o mistério da Ascensão do Senhor, nosso advogado sentado à direita Deus, o Santo Padre disse:
Jesus é o único e eterno Sacerdote que com a sua paixão atravessou a morte e o sepulcro e ressuscitou e ascendeu ao Céu; está perto de Deus Pai, onde intercede sempre a nosso favor (cf. Ef 9,24). Como afirma São João na sua Primeira Leitura Ele é o nosso advogado: que bonito que é ouvir isto! Quando uma pessoa é chamada ao juiz ou a um caso, a primeira coisa que faz é chamar um advogado para que o defenda. Nós temos um, que nos defende sempre, defende-nos das insídias do diabo, defende-nos de nós mesmos, dos nossos pecados! Caros irmãos e irmãs, temos este advogado: não tenhamos medo de ir ter com Ele a pedir perdão, a pedir benção, a pedir misericórdia! Ele perdoa-nos sempre, é o nosso advogado: defende-nos sempre! Não se esqueçam disto!

Já desde os primeiros dias que Papa Francisco tem recordado frequentemente o Inimigo. Na primeira Missa pro Ecclesia na Capela Sistina disse:
Quando não se confessa Jesus Cristo, lembro-me de uma frase de Léon Bloy: "Quem não prega o Senhor, prega o diabo." Quando não se confessa Jesus Cristo, confessa-se a mundanidade do diabo, a mundanidade do demónio.
O Espírito Santo é a alma da Igreja com a sua força vivificante e unificante: de muitos faz um só corpo, o Corpo Místico de Cristo. Não cedamos nunca ao pessimismo, àquela amargura que o diabo nos oferece todos os dias; não cedamos ao pessimismo e ao desânimo.
Na homilia de Domingo de Ramos lê-se:
Jesus, que está no meio de nós; nasce do saber que com Ele não estamos nunca sós, mesmo nos momentos difíceis, mesmo quando o caminho da vida se encontra com problemas e obstáculos que parecem insuperáveis, e são tantos! E neste momento vem o inimigo, vem o diabo, mascarado de anjo tantas vezes e, insidiosamente, diz-nos a sua palavra. Não o oiçam! Sigamos Jesus!

É também interessante notar a apresentação dinâmica, ou melhor, "dramática" da vida espiritual que o Papa tem vindo a exprimir, de uma forma muito clara, no sentido da "luta espiritual". Parece-me bastante evidente como nisto emerge a espiritualidade cristã segundo os pontos típicos de Santo Inácio de Loyola. Pensem também no uso dos termos "consolação" e "desolação", também estes intimamente relacionados à espiritualidade inaciana. A polaridade que se cria ajuda à pregação e certamente à pedagogia da escolha e do apostolado.

No texto não muito comprido dos Exercícios Espirituais do fundador dos Jesuítas, a propósito do diabo, encontramos outras 40 referências:
demónio/demónios 22 vezes
lúcifer 3 vezes
anjo mau 3 vezes
inimigo da natureza humana 8 vezes
inimigo do nosso bem e da nossa salvação eterna 1 vez
inimigo maligno 1 vez
adversário 1 vez
chefe dos adversários 2 vezes
chefe do mal 1 vez
tentador 1 vez
diabo 1 vez

in cantualeantonim.com



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sexta-feira, 19 de abril de 2013

O "fumo branco" no dia 19 de Abril de 2005 foi assim




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Há 8 anos na Praça de S.Pedro


"Queridos irmãos e irmãs:

Depois do grande Papa João Paulo II, os senhores cardeais elegeram a mim, um simples humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me o facto de que o Senhor sabe trabalhar e actuar com instrumentos insuficientes e, sobretudo, confio nas vossas orações. Na alegria do Senhor ressuscitado, confiados em sua ajuda permanente, sigamos adiante. O Senhor nos ajudará. Maria, sua santíssima Mãe, está do nosso lado. Obrigado."



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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Abertas as comemorações dos 8 anos Senza!

Há exactamente 8 anos um pequeno grupo de portugueses chegava a Roma



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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Frase do dia

Para lutar eficazmente contra o mal, é preciso voltar a guerra para dentro, vencer o mal em nós mesmos. Trata-se da guerra mais dura, a guerra contra si mesmo. Tenho lutado esta guerra. Durante anos e anos. Foi terrível. Mas hoje estou desarmado. 

Não tenho mais medo de nada, porque «o amor lança fora o temor». Estou desarmado da vontade de ter razão, de justificar-me, à custa dos outros. Sim, já não tenho medo. Quando não se tem nada, já não se tem medo. «Quem nos separará do amor de Cristo?».

Atenágoras I



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O Papa Francisco e o "incrível" milagre eucarístico de Buenos Aires

O Papa Francisco, enquanto Bispo, ordenou uma investigação para comprovar um dos maiores milagres eucarísticos da história recente, ocorrido em Buenos Aires em 1996.

Foi o chamado Milagre Eucarístico de Buenos Aires, onde uma Hóstia Consagrada se tornou Carne e Sangue. D.Jorge Bergoglio, na altura Bispo Auxiliar de Buenos Aires, ordenou que se chamasse um fotógrafo profissional para tirar fotos do acontecimento para que os factos não se perdessem. Depois foram conduzidas pesquisas de laboratório coordenadas pelo Dr. Castanon.

Os Estudos mostraram que a matéria colhida da Hóstia era uma parte do ventrículo esquerdo, músculo do coração de uma pessoa com cerca de 30 anos, sangue tipo AB de uma pessoa que tivesse sofrido muito com a morte, tendo sido golpeado e espancado. Os cientistas que realizaram o exame e os estudos não sabiam que era material proveniente duma Hóstia Consagrada, isso só lhes foi revelado após a análise, e foram surpreendidos porque haviam encontrado glóbulos vermelhos, glóbulos brancos a pulsar durante a análise, como se o material tivesse sido colhido directamente de um coração ainda vivo.

A Hóstia Consagrada tornou-se Carne e Sangue
Às 19 horas do dia 18 de agosto de 1996, o Padre Alejandro Pezet celebrava a Santa Missa numa igreja no centro comercial de Buenos Aires. Quando estava já terminar de distribuir a  Sagrada Comunhão, uma mulher veio até a ele e disse que tinha encontrado uma hóstia descartada num candelabro, na parte de trás da igreja. Ao chegar ao lugar indicado, o Padre viu a hóstia profanada. Como não pudesse consumi-la, colocou-a numa tigela com água, como manda a norma local, e colocou-a no Santuário da Capela do Santíssimo Sacramento, aguardando que se dissolvesse na água.

Na Segunda-Feira, dia 26 de agosto, ao abrir o Tabernáculo, viu, com espanto, que a Hóstia se havia tornado numa substância sangrenta. Relatou o facto então o seu Bispo local, que determinou que a Hóstia fosse fotografada profissionalmente. As fotografias foram tiradas no dia 6 de Setembro de 1996. Mostram claramente que a Hóstia, que se tornou um pedaço de Carne sangrenta, tinha aumentado consideravelmente de tamanho.

Análises Clínicas
Durante anos, a Hóstia permaneceu no Tabernáculo e o acontecimento foi mantido em segredo estrito. Como a Hóstia não sofreu decomposição visível, o D.Bergoglio decidiu mandar analisá-la cientificamente.

Uma amostra do tecido foi enviado para um laboratório em Buenos Aires. O laboratório relatou ter encontrado células vermelhas e brancas do sangue e do tecido de um coração humano. O laboratório também informou que a amostra de Tecido apresentava características de material humano ainda vivo, com as células pulsantes como se estivessem num coração.

Testes e análises clínicas: "Não há explicação científica"
Em 1999, foi solicitado ao Dr. Ricardo Castañón Gomez que realizasse alguns testes adicionais. No dia 5 de Outubro de 1999, na presença de representantes do Cardeal Bergoglio, o Dr. Castañón retirou amostras do tecido ensanguentado e enviou para Nova Iorque, para análises complementares. Para não prejudicar o estudo, a equipa de cientistas não foi informada da sua verdadeira origem.

O laboratório relatou que a amostra foi recebida do tecido do músculo do coração dum ser humano ainda vivo.

Cinco anos mais tarde (2004), o Dr. Gomez contatou o Dr. Frederic Zugibe e pediu para avaliar uma amostra de teste, novamente mantendo em sigilo a origem da amostra. Dr. Zugibe, cardiologista conhecido, determinou que a matéria analisada era constituída de "carne e sangue" humanos. O médico declarou o seguinte:
"O material analisado é um fragmento do músculo cardíaco que se encontra na parede do ventrículo esquerdo, músculo é responsável pela contração do coração. O ventrículo cardíaco esquerdo bombeia sangue para todas as partes do corpo. O músculo cardíaco tinha uma condição inflamatória e um grande número de células brancas do sangue, o que indica que o coração estava vivo no momento da colheita da amostra, já que as células brancas do sangue morrem fora de um organismo vivo. Além do mais, essas células brancas do sangue haviam penetrado no tecido, o que indica ainda que o coração estava sob stress severo, como se a pessoa tivesse sido espancada."
Evidentemente, foi uma grande surpresa para o cardiologista saber a verdadeira origem do tecido. Dois jornalistas australianos, o Mike Willesee e Ron Tesoriero, testemunharam os testes. Ao saberem donde a amostra tinha sido recolhida, demonstraram grande surpresa. Racional, Mike Willesee perguntou ao médico por quanto tempo as células brancas do sangue teriam permanecido vivas se tivessem vindo de um pedaço de tecido humano que permaneceu na água.

"Elas deixariam de existir em questão de minutos", disse o Dr. Zugibe. O médico foi então informado que a fonte da amostra fora inicialmente deixada em água durante um mês e, em seguida, durante três anos num recipiente com água destilada, sendo depois retirada para análise.

Dr. Zugibe declarou que não há maneira de explicar cientificamente este facto: "Como e por que uma Hóstia Consagrada pode mudar e tornar-se Carne e Sangue humanos? Permanece um mistério inexplicável para a ciência, um mistério totalmente fora da minha jurisdição".

Mike Willesse, um dos jornalistas australianos mais conhecidos, converteu-se ao Catolicismo por causa deste Milagre. Mais tarde escreveu um livro, juntamente com Ron Tesoriero, onde são descritos vários Milagres Eucarísticos que aconteceram no mundo inteiro, chama-se Reason to Believe.

Aqui fica um vídeo com o depoimento do Dr. Castañón e as imagens do Milagre.
Adaptado e corrigido de: Voz da Igreja


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sábado, 13 de abril de 2013

A educação sexual e D.Afonso Henriques - Pe.Gonçalo Portocarrero

A questão pode parecer peregrina, mas não é. Com efeito, foi precisamente neste ano, em que se festejam os novecentos anos do primeiro Rei de Portugal, que se implementou no nosso país a educação sexual obrigatória. Uma tão feliz coincidência não pode ser mero acaso, pelo que parece ser pertinente questionar a relação entre aquela efeméride e esta nova vertente da educação em Portugal.

É certo e sabido que D. Afonso Henriques não teve qualquer tipo de educação sexual, muito embora uma tal carência não tenha significado para o nosso primeiro monarca nenhuma especial inaptidão, pois não só foi pai da nação como, também, de onze filhos! Mais ainda: todos os seus contemporâneos que geraram descendentes, fossem eles nobres, burgueses ou filhos do povo, todos, sem excepção, fizeram-no sem que lhes tivesse sido dada nenhuma educação sexual. É incrível, mas é verdade.

E, não obstante esta ignorância sexual generalizada, o país não se extinguiu! É caso para dizer: milagre! Era de esperar que os portugueses tivessem desaparecido do mapa, por desconhecimento da ciência da reprodução, acintosamente omitida pela Igreja e pelo Estado, nos seus respectivos estabelecimentos de ensino. Mas não! De forma absolutamente prodigiosa, os portugueses, sabe-se lá a que custo, lograram trazer filhos ao mundo! Filhos das trevas e da falta da educação sexual! Filhos da iliteracia sexual que o nosso país sofreu durante oito séculos!

Temo que seja esta a ancestral razão pela qual muito se gaba, e com razão, a proverbial capacidade lusitana de improvisar: não havia aulas, os homens e as mulheres não sabiam educação sexual e, contudo, apareciam filhos, tantos filhos que se espalharam pelas sete partidas do mundo! Se a ignorância sexual foi tão prolífica para Portugal, será que a educação sexual esterilizará o nosso país? Será que o que se pretende, com a nova disciplina curricular, é que os portugueses mirrem e se extingam, em vez de se expandirem e multiplicarem?!

Seja como for, a verdade é que o governo entendeu por bem pôr termo a esta atávica falta de educação sexual nacional. Mas, se pega a moda do Estado pretender ensinar o que é óbvio e natural, em vez do que é elevado e racional, é de esperar que a reforma educativa não se fique pela sexualidade. Falta, por exemplo, uma disciplina de educação respiratória, porque há quem não saiba inspirar e expirar em condições. O mesmo se diga da educação digestiva e de todas as outras expressões das mais básicas necessidades do nosso organismo. Em suma: a introdução da educação sexual não é uma simples alteração cosmética da política educativa, mas o início de uma nova era, a vanguarda de uma autêntica revolução. Abaixo o português e a matemática e viva a educação sexual! Abaixo a cultura e viva a educação animal! Abaixo a educação humanista e viva a educação «bestial»!

A propósito, não será por falta de educação sexual que o lince ibérico está em vias de se extinção?! Se os homens, que em princípio são animais racionais, têm necessidade, no sábio e prudente entendimento dos nossos governantes, de uma aprendizagem que assegure a sua reprodução, com mais razão os animais irracionais precisam de uma formação específica que os ensine a procriar. Crie-se, pois, sem mais demora, a Escola C+S da Malcata e imponha-se aos linces a frequência obrigatória das respectivas aulas de educação sexual: é a única solução capaz de impedir o seu dramático desaparecimento.


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sexta-feira, 12 de abril de 2013

As principais causas de nulidade dum casamento

Se o casamento for inválido, a autoridade eclesiástica, vale dizer, a justiça canónica poderá declarar a nulidade. Gostaria de apresentar ao leitor um resumo de todas as principais causas de nulidade. Sabemos que, por princípio, o casamento é indissolúvel (cf. Mc 10, 1-12). Sendo assim, nenhum poder humano, nem a Igreja, nem o Papa, podem anular um matrimónio válido. Friso o adjectivo válido. Com efeito, se o casamento for inválido, a autoridade eclesiástica, vale dizer, a justiça canónica poderá declarar a nulidade. 

Eis as causas mais comuns de nulidade de um casamento celebrado na Igreja:

1) Exclusão do bem da prole: um dos nubentes, ou ambos, não querem ter filhos.
2) Exclusão do bem da fidelidade: não se admite a exclusividade de um único parceiro sexual.
3) Exclusão total do matrimónio: não se deseja o casamento em si; quer-se apenas uma aparência de casamento, para que se possa atingir outro objectivo, como, por exemplo, o status social próspero.
4) Exclusão da indissolubilidade: os parceiros, ou um deles, se casam, mas admitem a possibilidade de separação e rompimento do vínculo, se o casamento não der certo.
5) Erro de qualidade directa e principalmente desejada: por exemplo, o facto de a parceira ser uma exímia costureira é tudo para o nubente; casa-se com ela, visando à referida qualidade. Se esta qualidade não se implementa, o casamento é nulo.
6) Violência ou medo: alguém constrange a outra pessoa a convolar o casamento, ou, então, surge o denominado temor reverencial (respeito excessivo pela vontade dos pais; por exemplo, uma gravidez inesperada faz com que o pai moralmente obrigue a filha a se casar, para não ficar desonrada).
7) Falta de discrição de juízo: os cônjuges, ou um deles, não dispõem da maturidade mínima necessária para assumirem e porem em prática os encargos do matrimónio.
8) Falta de forma canónica: não houve o devido respeito ao rito estabelecido pela Igreja na celebração do casamento. Por exemplo, o padre não solicitou a manifestação de vontade dos noivos.

Não nos esqueçamos de que as anomalias ou vícios acima mencionados têm de estar presentes no exacto momento em que ocorre o casamento, isto é, na celebração, diante da testemunha qualificada (geralmente um padre). Esta circunstância será adequadamente aferida num processo judicial eclesiástico.

Todo o católico tem o direito líquido e certo de recorrer a um tribunal eclesiástico, mesmo que seja apenas para tirar dúvidas. Portanto, se percebeu que houve algum problema sério no seu primeiro casamento, procure o tribunal eclesiástico da sua região. Com certeza, será muito bem atendido.
Para o casamento católico, a vontade é preponderante. Os noivos são os ministros do sacramento do matrimónio. Desta feita, se houver alguma deturpação do consentimento, máxime pelos oito motivos declinados neste artigo, o casamento é inválido.

Gostaria, também, de ressaltar que hoje em dia, infelizmente, as pessoas casam-se totalmente despreparadas, do ponto de vista da maturidade e, muita vez, da afectividade. Por conseguinte, há bastantes sentenças que declaram a nulidade com base no cânon 1095, n.º 2, ou seja, imaturidade grave de um ou dos dois cônjuges. Trata-se de pessoas que, embora queiram, não conseguem, não são capazes de viver a dois, de conviver sob o mesmo tecto. Neste cânon encaixa-se igualmente o casamento em virtude da gravidez. Os que querem resolver o problema da gravidez com o casamento nem sempre estão devidamente preparados para a vida a dois. O matrimónio não pode funcionar como tábua de salvação para a gravidez indesejada. Esta ocorrência é muito frequente nos processos canónicos.

O importante é que num tribunal eclesiástico, abra o seu coração. Sinta-se como se estivesse diante dum confessor. Os processos canónicos deste tipo correm em segredo de justiça.  É igualmente oportuno levar ao tribunal, depois de iniciado o processo, testemunhas que viram cenas pertinentes ao pedido de nulidade, ou ouviram confidências, reclamações etc. Todo este material será idoneamente analisado pelos juízes eclesiásticos, de maneira séria e justa. 

Edson Sampel in Zenit


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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Apresentação do livro do nosso Frei Bernardo Corrêa d´Almeida




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Frase do dia

“Já teria abandonado os prazeres – diz o libertino – se tivesse fé. Mas eu respondo : Já terias fé se tivesses abandonado os prazeres.” 

Blaise Pascal


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A Igreja dos Pobres - Dom Fernando Rifan

O nosso Papa Francisco disse que escolheu o nome do “pobrezinho de Assis”, inspirado no conselho de Dom Cláudio Hummes: “Não se esqueça dos pobres!” “Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres!”, disse ele aos jornalistas. Aliás, foi assim que São Francisco de Assis recuperou a credibilidade da Igreja.

Realmente, a mensagem evangélica é paradigmática: “O Reino (de Deus) pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde. Jesus é enviado para "evangelizar os pobres" (Lc 4,18). Declara-os bem-aventurados, pois "o Reino dos Céus é deles" (Mt 5,3); foi aos "pequenos" que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos. Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz; conhece a fome, a sede e a indigência. Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para se entrar em seu Reino” (C. I. C. 544).

“Quando envergamos a nossa casula humilde pode fazer-nos bem sentir sobre os ombros e no coração o peso e o rosto do nosso povo fiel, dos nossos santos e dos nossos mártires, que são tantos neste tempo. fixemos agora o olhar na ação. O óleo precioso, que unge a cabeça de Aarão, não se limita a perfumá-lo a ele, mas espalha-se e atinge «as periferias». O Senhor dirá claramente que a sua unção é para os pobres, os presos, os doentes e quantos estão tristes e abandonados. A unção, amados irmãos, nãao é para nos perfumar a nós mesmos, e menos ainda para que a conservemos num frasco, pois o óleo tornar-se-ia rançoso... e o coração amargo” (Papa Francisco, Homilia da Missa Crismal, 28/3/2013).

A Igreja, seguindo o exemplo de Jesus, faz na sua evangelização a opção preferencial pelos pobres. Opção preferencial, mas não exclusiva, pois todos são chamados à salvação. A Igreja não despreza ninguém, os pobres, por serem os mais abandonados pela sociedade, e os ricos, os empresários, os que possuem bens e influência nesse mundo são sempre acolhidos: muitas vezes eles são até mais pobres e necessitados do que os que não têm bens materiais. Ademais, o dinheiro pode ser bem empregado, sobretudo em se tratando das coisas de Deus.

Narra o Evangelho a passagem de Jesus na casa de Lázaro, quando Maria tomou um perfume precioso e caro e com ele ungiu os pés de Jesus. Judas se indignou e, diante do que julgava um desperdício, tomou a defesa dos pobres. Jesus, porém, defendeu o gesto de Maria: “Pobres, sempre os tereis entre vós. Mas a mim nem sempre me tereis!” (Jo 12, 3-8).  

Jesus, nascendo e vivendo pobre, não discrimina ninguém: no seu presépio vemos pobres e ricos, pastores e reis. Todos são bem-vindos ao berço do “príncipe da paz”. Com o seu exemplo, prega a humildade e não a soberba, a caridade e não a inveja, o desapego e não a ambição, a paz e não a luta de classes. A desigualdade, quando não é injusta, é natural e normal, podendo ser suavizada e superada pela prática das virtudes cristãs. Amemos e consolemos os pobres, os preferidos de Deus, sem lançarmos no coração deles a amargura da inveja e ambição.


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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Quadro de Jesus




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É possível um relativismo absoluto?

Num texto anterior[i], perguntávamos se seria possível conciliar o relativismo e o ateísmo. E víamos que, segundo três famosos ateus (Nietzsche, Adorno e Horkheimer) o ateísmo, ao negar a origem do conhecimento e ao tomar como verdade a inexistência de Deus, cai numa contradição insuperável. 

De facto, quem nega a existência da verdade, não pode coerentemente afirmar que Deus não existe. Sabemos que há quem se esforce muito por conciliar relativismo e ateísmo, colocando um ateísmo indiscutível e dogmático como fundamento do relativismo e construindo um sistema de pensamento no qual se parte da negação de Deus e, a partir dessa verdade quase “divina”, afirma-se um relativismo moral e cognitivo radical. 

Um pensador que colocou em íntima relação o ateísmo com o tema da verdade foi F. Nietzsche, autor que se considerava «ateu por instinto». O seu ateísmo voluntarista tinha como consequência a afirmação dum forte relativismo e a verdade era considerada como «um exército de metáforas, metonímias», «ilusões das quais se esqueceu a sua natureza ilusória», «moedas nas quais as imagens foram consumidas». Noutro texto famoso, ele fazia uma interessante observação: «receio que não possamos nunca afastar-nos de Deus porque ainda acreditamos na Gramática». Desse modo, o ateísmo radical deveria conduzir a uma sociedade sem ciência, sem explicações últimas, na qual o homem só seria capaz de conhecer os seus próprios estados de ânimo. Porém, tudo isso parte de uma afirmação com valor de verdade absoluta: «Deus morreu, Deus continua morto, nós matámo-lo». O “teomicídio” seria, pois, o ato supremo de uma vontade que busca uma autonomia absoluta, e não de uma demonstração racional. E aquele gesto traria consigo um relativismo radical, mas não certamente absoluto.

É certo que hoje muitos pensam que o relativismo seja o fundamento do ateísmo, mas isso deve-se a um modo superficial de examinar o problema. Se o relativismo é total, se não há nenhuma verdade, jamais pode ser verdade que Deus não exista. De modo que, surpreendentemente, o ateísmo coloca limites ao relativismo. Por outras palavras, pode existir um ateísmo relativista, ou seja, um ateísmo a partir do qual se deduz o relativismo, mas não um relativismo ateu.

Então, é impossível um relativismo absoluto? Coloquemos de outro modo a questão: pode ser verdade que não existe nenhuma verdade? Só há duas respostas possíveis: “sim, é verdade que não existe nenhuma verdade”. Ora, quem diz isso, assume, talvez inconscientemente, que há alguma verdade; e se alguém disser “não, não pode ser verdade que não exista a verdade”, certamente estaria a usar melhor a sua razão e teria encontrado a resposta lógica. De modo que, com uma resposta ou outra, a conclusão é sempre a mesma: não pode existir um “relativismo absoluto”, a verdade sempre faz parte do nosso pensamento e discurso.

A consequência disto é que, por incrível que pareça, o relativismo só pode ser relativo, uma vez que só pode ser parcial. Isto porque é sempre necessário aceitar que há alguma verdade, que algo pode ser conhecido. Certo tipo de relativismo pode ser aceite para as opiniões, que são afirmações de algo pouco fundamentado, de modo que quando se opina há receio de que a afirmação contrária seja a verdadeira. Mas nem tudo na nossa comunicação é simples opinião.

Aristóteles dizia que como a verdade é uma realidade primeira do nosso pensamento, quem nega a verdade, afirma a verdade. Ou seja, quem nega que ela exista, sabe já o que ela seja e supõe que é verdade a sua não existência, o que é uma contradição em termos. Outro modo de fugir ao compromisso com a verdade seria assumir a posição céptica, ou seja, aquela postura de certos pensadores que dizem não ser possível nem afirmar, nem negar a verdade. Quem assume essa posição, certamente se livra da linguagem e da “Gramática”, mas isso traz consigo uma consequência nefasta: não negar nem afirmar algo, faz o ser humano se tornar semelhante a uma planta, com quem não é educado discutir.

O relativismo só pode, pois, ser relativo, ou seja, só pode ser aplicado a algumas afirmações e nunca a todas. A verdade não pode jamais ser excluída da vida e da linguagem humana, a menos que alguém se conforme em viver como uma planta. F. Nietzsche só pôde dizer que a verdade é «um exército de metáforas», uma «ilusão», uma moeda sem valor porque sabia perfeitamente o que é uma metáfora, uma ilusão, uma moeda com valor. Negar a verdade implica sempre aceitar a verdade, assim como negar Deus implica pressupor a sua existência.

Então, temos que colocar agora a incómoda questão: afinal de contas, o que é a verdade? Platão dizia que «verdadeiro é o discurso que diz as coisas como são, falso o que diz como as coisas não são». E Aristóteles afirmou algo tão simples quanto essencial: «Negar aquilo que é, e afirmar aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é e negar o que não é, é a verdade». A verdade dá-se quando o nosso discurso expressa o que as coisas realmente são.

Pe. Anderson Alves in Zenit


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terça-feira, 9 de abril de 2013

Frase do dia

“Quando se prefere murmurar, difamar o outro, bater um pouco nos outros – são coisas de todos os dias, que acontecem a todos, também a mim – (isso) são tentações do maligno que não quer que o Espírito venha sobre nós e faça a paz, a mansidão das comunidades cristãs.” 

Papa Francisco, hoje na Missa


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Fazedor de Milagres - Pe.Gonçalo Portocarrero de Almada

Foi há já algum tempo que um espevitado rapaz, de uma dúzia de anos e com ares de alguma importância, me interrogou sobre a minha condição sacerdotal. Fê-lo de forma tão directa que não me deixou hipótese de nenhuma airosa escapadela.
- Mas então – inquiriu – o que é que faz um padre?!
À frontalidade brutal da questão apeteceu-me responder com a não menos brutal crueza da verdade, mas – cismei – seria correcto fazê-lo?! Mesmo que não estivesse em causa faltar à verdade, parecia com efeito mais oportuno satisfazer o seu indiscreto pedido com alguma ambiguidade mais ou menos corriqueira, recorrendo, por exemplo, a uma insípida descrição dos deveres pastorais. Uma resposta desse estilo, mesmo sem dar conta da essência sacerdotal, poderia contudo saciar a atrevida curiosidade do meu jovem inquisidor. Mas a verdade é que, não obstante a inconveniência, acabei por me decidir pela resposta pura e dura que, por certo, a impertinência do interrogador estava mesmo a pedir.
- Um padre – disse-lhe com humilde convicção – faz milagres. É, aliás, a única coisa que verdadeiramente sabe fazer e que ninguém pode fazer melhor do que ele. Todas as outras coisas que os sacerdotes fazem, podem também ser feitas por outras pessoas, como gerir centros pastorais, dar catequese, leccionar, etc., mas certos milagres só os padres os podem fazer.
O meu jovem interlocutor, não foi capaz de esconder o seu assombro ante uma resposta que excedia as suas mais ousadas expectativas. Suponho que, de imediato, me perscrutou intrigado, procurando descobrir na minha fronte algum indício das antenas que seriam de supor em quem tem tão extraordinários poderes ou, na minha retaguarda, o chumaço de umas misteriosas asas camufladas, que me permitissem os fantásticos voos que a sua imaginação adivinhava. Nada detectando, porém, de insólito na minha anatomia, investiu com uma nova pergunta:
- Milagres?! Mas milagres como os que fez Jesus Cristo aqui na terra, quando curava os paralíticos, cegos, coxos, surdos e mudos?!
A questão era pertinente mas, muito embora traduzisse alguma inquietação, não me contive e, mais uma vez, tive mesmo que lhe dizer a verdade, toda a verdade:
- Não, claro, como esses que Nosso Senhor fez e que alguns santos, mesmo sem serem padres, também fizeram, mas milagres muito maiores, como converter um pequeno naco de pão e um pouco de vinho no próprio Deus, prodígio que, segundo consta nos Evangelhos, Jesus Cristo só realizou uma vez antes de subir ao Céu, na última Ceia, mas que nós, os padres, fazemos diariamente e, às vezes, até mais do que uma vez ao dia, sempre que celebramos a Eucaristia.
Não voltei a ver aquele rapaz que consciente e voluntariamente escandalizei, mas não se varreu da minha memória o seu semblante estupefacto ante a minha resposta, afinal tão óbvia quanto escrupulosamente exacta. E, quando alguma vez me assalta a lembrança daquele diálogo e de novo revejo, espelhado na sua jovem face, o fascínio do mistério, não posso deixar de reconhecer que essa é, afinal, a única atitude lógica ante a grandeza do dom sacerdotal.
Também a mim me assusta, confesso, a sublimidade do meu munus sacerdotal, mas conforta-me no entanto saber que Deus, por ironia e graça, escolhe habitualmente aqueles que nada são para este ministério, para que não caiba qualquer dúvida de que os méritos dos seus milagres são única e exclusivamente d’Ele.


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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Destruir Portugal - João César das Neves

Somos a geração que está a destruir Portugal. Daqui a décadas, aqueles que viverem nos escombros do que foi Portugal olharão para trás e culpar-nos-ão da sua situação. Apesar do nosso hábito pedante de condenar épocas antigas por males que lhes assacamos, as acusações que um dia ouviremos nunca as pudemos atribuir aos antigos.

Na sua amargura, os futuros terão dificuldade em acreditar que, apesar do desvario, tivéssemos momentos de lucidez e vislumbre da futura destruição. Hoje, no meio da crise, muitos dizem que Portugal está destruído. Só que, até admitindo o mal, a tacanhez que arruína o País está activa e distorce a compreensão. Os disparates que acompanham queixas e acusações manifestam, nelas próprias, o terrível vício que destrói Portugal.

Aqueles que agora contemplam a desgraça que cairá sobre nós começam logo por se considerar totalmente inocentes. São sempre outros os culpados. Como se um punhado de vilões, mesmo em posição de poder, conseguisse uma devastação destas. Muitos até dizem identificar os bandidos, lançando-se afanosamente em intensa e mesquinha campanha de denúncia e insulto. Assim manifestam a mesma desgraçada grosseria.

Pior é que o diagnóstico da situação, os males considerados e as curas recomendadas são tão laterais, incipientes e tolas que, em si mesmas, manifestam o vício que destrói Portugal. A razão por que tantos bramam que se arruína o País tem a ver com... dinheiros. É espantoso, mas muitos estão mesmo convencidos de que a recessão será irremediável e as dificuldades económicas fatais. O nosso problema é, afinal, falência de lojas e restaurantes, desemprego alto, dívida pública.

Isto permite compreender a desgraçada atitude que arrasa um povo. Pondo a nossa esperança a esse nível, colocando a nossa ânsia nesses temas, tendo a razão de ser em coisas dessas, não admira que se devaste uma nação. "Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt 6,21)

De facto, a destruição de Portugal não tem nada a ver com isso. Esta crise estará esquecida dentro de anos, como tantas para trás, a maioria bastante pior. Aquilo que o tempo não pode apagar, aquilo que chega para aniquilar o País é a destruição da família e a extinção da natalidade. Com a taxa de fertilidade mais baixa da Europa Ocidental e das mais baixas do mundo, o casamento em vias de extinção, o divórcio em níveis nunca vistos e a educação na quinta década sucessiva de crise, não admira que as próximas gerações acusem este tempo dos seus males.

Em 2010, último ano com dados para a amostra completa, éramos o terceiro país dos 15 da Europa com mais divórcios e o quarto com menos casamentos. Com apenas mais 1.3 casamentos do que divórcios por mil habitantes, o nosso País mostra uma precariedade familiar que é difícil de replicar na história do mundo, e raramente se encontra fora de situações de calamidade nacional. Não podemos ter dúvidas de que estamos a destruir Portugal.

Nos cinco anos desde 2007 já houve mais de 80 mil abortos, cerca de dez vezes os soldados portugueses mortos nos 14 anos de Guerra Colonial. Muitos se queixaram das cicatrizes que esse conflito deixou na geração que a suportou. Mas ninguém ouve sequer a voz da geração que hoje é sacrificada a "razões socioeconómicas" e à "opção da mulher". E o genocídio não demora apenas 14 anos. Sem fim à vista, continua galopante.

Entretanto, muita gente acha Portugal perdido pela concorrência chinesa, reforma do Estado ou participação no euro. O disparate chega para revelar a infantilidade. Quando souberem que pensamos assim, os futuros habitantes desta terra perceberão a mesquinhez da nossa atitude. Os nossos poucos descendentes e todos aqueles que vierem de longe tapar o buraco populacional que deixámos vão entender como foi possível que fizéssemos esta desgraça.

Afinal, a atitude egoísta e interesseira que endividou o País, trazendo-o à crise, é a mesma que hoje motiva as lamúrias e os insultos e que promove o divórcio, despreza a fertilidade e prefere o aborto. Sem filhos não há futuro.


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