terça-feira, 19 de setembro de 2006

Ah e tal não?

Toda esta estória dava para um bom scketch do gato fedorento.
Imagino o diálogo, estando o Ricardo Araújo Pereira a falar para o Zé Diogo Quintela, com os outros dois atentos ao lado deste, TODOS mascarados de modo a que percebêssemos que eram árabes:
- epá, ouviste o discurso do Papa em Ratisbona?
- epá, não! O que é que ele disse?
- epá, não sei bem, mas reflectia acerca da impossibilidade de se dissociar Fé da Razão, e que as culturas profundamente religiosas do mundo vêem na exclusão do divino da universalidade da razão um ataque às suas convicções mais arreigadas, pelo que agir de modo irracional é contrário à natureza de Deus.
- epá, a sério?
- epá, sim sim. Depois para exemplificar este ponto de vista citou um imperador bizantino, que disse, ao conversar com um intelectual persa, acerca do Cristianismo e do Islão, no século XIV: “Mostra-me o que Maomé trouxe de novo e só vês coisas más e desumanas, tal como a sua ordem de espalhar pela espada a fé que pregava.”
- epá!... ééépá!... isso é tudo mentira!! mentira pura!! Às armas! ó da guarda!! vamos aniquilar esse gaijo!! dá cá a metrelhadora! Tu, veste uma bomba e vai até à baixa explodir aquilo tudo! Vamos lá!! E tu, traz o lança-chamas!!

Foi mais ou menos esta a reacção de meia dúzia de pessoas em algumas localidades do médio oriente.

Julgo que o problema desta citação está no facto de, embora a sua origem remontar ao século XIV, muita gente ter ficado com a sensação que poderia dizer respeito aos dias que vivemos neste século XXI. Tratou-se de uma referência a uma conversa alheia, embora facilmente o Papa pudesse identificar o período do Cristianismo em que também se usou a força da espada, como também os islamitas poderiam ter mostrado todos os exemplos de bondade e amor patentes na sua religião. Sucede que nos últimos cem anos, felizmente, não temos vistos ataques nem mortes em nome da nossa fé. Não conheço nenhum grupo (armado ou não) que reivindique o regresso das cruzadas. Julgo que isto resulta da separação entre a Igreja e os Estados em países de matriz cristã, o que terá ajudado a compreender os verdadeiros desafios que se nos colocam, conforme o Papa João Paulo II referiu na sua encíclica Novo Millenium Ineunte e agora o Papa Bento XVI na Deus Caritas Est.
Por outro lado, talvez seja altura dos meios de comunicação social começarem a transmitir reportagens positivas de acontecimentos no meio do Islão e que reflictam a acção e pensamento dessa imensa maioria de homens. Com certeza que as há, eu é que desconheço.

Como nos disse a Aura Miguel, “Com esta citação do imperador, o Papa quis deixar claro que a difusão da fé pela violência é irracional. E é irracional, porque a fé é fruto da alma e não do corpo. Quem quiser conduzir alguém à fé tem de falar bem e raciocinar correctamente, nunca pela violência ou ameaça. Ou seja, a razão é que convence, não a força. Deus é a razão criadora e, como tal, temos de ter coragem para nos abrir à razão, sem medo das questões que levanta, sublinhou. A visita de Bento XVI prossegue hoje com uma agenda singular. O Papa tirou o dia para si. Almoça com o irmão e visita o cemitério onde estão enterrados os pais.”

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