quarta-feira, 1 de maio de 2024

Terço feito com rolos de palha

Em Mansores, no concelho de Arouca, foi feito um Terço com rolos de palha (envolvidos em plástico branco) e também uma imagem de Nossa Senhora. Trata-se duma homenagem a Nossa Senhora no mês de Maio, mês de Maria.






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terça-feira, 30 de abril de 2024

Santa Catarina: de analfabeta a conselheira do Papa e Doutora da Igreja


Catarina nasceu em Sena no ano de 1347. Ainda muito jovem, ingressou na Ordem Terceira de São Domingos, sobressaindo pelo seu espírito de oração e penitência. Levada pelo seu amor a Deus, à Igreja e ao Romano Pontífice, trabalhou incansavelmente pela paz e unidade da Igreja nos tempos difíceis do desterro de Avignon. Foi a esta cidade e pediu ao Papa Gregório XI que voltasse quanto antes para Roma, de onde o Vigário de Cristo na terra deveria governar a Igreja. “Se morrer, sabei que morro de paixão pela Igreja”, declarou uns dias antes da sua morte, ocorrida no dia 30 de abril de 1380.

Escreveu inúmeras cartas, das quais se conservam cerca de quatrocentas, algumas orações e elevações, e um só livro, o Diálogo, que relata as conversas íntimas da Santa com o Senhor. Foi canonizada por Pio II e o seu culto estendeu-se rapidamente por toda a Europa. Santa Teresa diz que, depois de Deus, devia a Santa Catarina, muito singularmente, o progresso da sua alma. Pio IX nomeou-a segunda padroeira da Itália e Paulo VI declarou-a Doutora da Igreja.

I. SEM PARTICULAR INSTRUÇÃO, aprendeu a escrever quando já era bastante crescida, e numa existência muita curta, Santa Catarina teve uma vida cheia de frutos, “como se tivesse pressa de chegar ao eterno tabernáculo da Santíssima Trindade”(1). Para nós, é um modelo de amor à Igreja e ao Romano Pontífice, a quem chamava “o doce Cristo na terra”(2), e de clareza e valentia para se fazer ouvir por todos.

Os Papas residiam naquela altura em Avignon, e Roma, o centro da cristandade, ia-se transformando numa grande ruína; como é evidente, tal situação acarretava inúmeras dificuldades à Igreja universal. E o Senhor fez com que Santa Catarina compreendesse a necessidade de que os Papas voltassem à sede romana para darem início à ansiada e imprescindível reforma. E ela correspondeu: orou incansavelmente, entregou-se à penitência, escreveu ao Papa, aos cardeais, aos príncipes cristãos...

Ao mesmo tempo, proclamou por todo o mundo a obediência e o amor ao Romano Pontífice, acerca do qual escreve: “Quem não obedece a Cristo na terra, àquele que está no lugar de Cristo no Céu, não participa do fruto do sangue do Filho de Deus”(3).

Com enorme vigor, dirigiu prementes exortações a cardeais, bispos e sacerdotes, implorando-lhes a reforma da Igreja e a pureza dos costumes. E não deixou de censurá-los gravemente, embora sempre com humildade e respeito pela dignidade de que estavam revestidos, pois “são ministros do sangue de Cristo”(4(. Estava convencida de que da conversão e do exemplo dos pastores da Igreja dependia a saúde espiritual do rebanho.

Pedimos hoje a Santa Catarina de Sena que saibamos alegrar-nos com as alegrias da nossa Mãe a Igreja e sofrer com as suas dores. E nos perguntamos como é a nossa oração pelos pastores que a governam, se oferecemos diariamente algum sacrifício, horas de trabalho, contrariedades suportadas com serenidade... pelas intenções do Santo Padre, desejosos de ajudá-lo a enfrentar essa imensa carga que Deus colocou sobre os seus ombros. Pedimos também a Santa Catarina que nunca faltem bons colaboradores ao lado do “doce Cristo na terra”.

“Para tantos momentos da história, que o diabo se encarrega de repetir, parece-me uma consideração muito acertada aquela que me escrevias sobre lealdade: «Trago o dia todo, no coração, na cabeça e nos lábios, uma jaculatória: Roma!»”(5) Esta única palavra é suficiente para nos ajudar a manter a presença de Deus durante o dia e a manifestar a nossa unidade com o Romano Pontífice e a nossa oração por ele.

II. SANTA CATARINA revelou sempre uma requintada sensibilidade, foi profundamente feminina(6). Ao mesmo tempo, foi extraordinariamente enérgica – como são as mulheres que amam o sacrifício e permanecem junto da Cruz de Cristo –, e não permitia desfalecimentos e fraquezas no serviço de Deus. Estava convencida de que, tratando-se da salvação própria e da salvação das almas, resgatadas por Cristo com o seu Sangue, não tinha cabimento algum enveredar por caminhos de excessiva indulgência, adoptar por comodismo ou covardia atitudes de débil filantropia, e por isso gritava: “Basta de unguentos! Pois com tanto ungüento estão-se apodrecendo os membros da Esposa de Cristo!”

Foi sempre fundamentalmente optimista, e não desanimava se, depois de ter feito o que estava ao seu alcance, os assuntos não se resolviam à medida dos seus desejos. Durante toda a sua vida, foi uma mulher profundamente delicada. Os seus discípulos recordaram sempre o seu sorriso aberto e o seu olhar franco; andava sempre bem arrumada, amava as flores e costumava cantar enquanto caminhava. Quando um personagem da época, incitado por um amigo, a procurou para conhecê-la, esperava encontrar uma pessoa de olhar oblíquo e sorriso ambíguo. Teve a grande surpresa de encontrar uma mulher jovem, de olhar claro e sorriso cordial, que o acolheu “como a um irmão que voltava de uma longa viagem”.

Pouco tempo depois de ter retornado a Roma, o Papa morreu. E com a eleição do sucessor iniciou-se o cisma que tantos rasgões e tantas dores havia de produzir na Igreja. Santa Catarina falou e escreveu a cardeais e reis, a príncipes e bispos... Tudo em vão. Exausta e cheia de pena, ofereceu-se a Deus como vítima pela Igreja. Num dia do mês de Janeiro, quando rezava diante do túmulo de São Pedro, sentiu sobre os seus ombros o imenso peso da Igreja, como aconteceu com outros santos. Mas o tormento durou poucos meses: no dia 29 de abril, por volta do meio-dia, Deus a chamou para a sua glória.

Do leito de morte, dirigiu ao Senhor esta comovente oração: “Ó Deus eterno!, recebe o sacrifício da minha vida em benefício deste Corpo Místico da Santa Igreja. Não tenho outra coisa para oferecer-te a não ser aquilo que me deste”(7). Uns dias antes, tinha dito ao seu confessor: “Asseguro-lhe que, se morrer, a única causa da minha morte será o zelo e o amor à Igreja que me abrasa e me consome...”

Os nossos dias são também de provas e dor para o Corpo Místico de Cristo. Por isso, “temos de pedir ao Senhor, com um clamor que não cesse (cfr. Is LVIII, 1), que os abrevie, que olhe com misericórdia para a sua Igreja e conceda novamente a luz sobrenatural às almas dos pastores e às de todos os fiéis”(8). Ofereçamos a nossa vida diária, com as suas mil pequenas incidências, pelo Corpo Místico de Cristo. O Senhor haverá de abençoar-nos e Santa Maria – Mater Ecclesiae – derramará a sua graça sobre nós com particular generosidade.

III. SANTA CATARINA ensina-nos a falar com clareza e valentia quando se debatem assuntos que afectam a Igreja, o Sumo Pontífice ou as almas. Não serão poucos os casos em que teremos a grave obrigação de esclarecer a verdade, e, nessas ocasiões, poderemos aprender de Santa Catarina, que nunca retrocedeu diante do fundamental, porque tinha a sua confiança posta em Deus.

Diz-nos o Apóstolo S. João: "Eis a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas"(9). Aqui estava a origem da força dos primeiros cristãos, bem como da dos santos de todos os tempos: não ensinavam uma verdade própria, mas a mensagem de Cristo que nos foi transmitida de geração em geração. É o vigor de uma Verdade que está por cima das modas, da mentalidade de uma época concreta. Devemos aprender cada vez mais a falar das coisas de Deus com naturalidade e simplicidade, mas ao mesmo tempo com a segurança que Cristo pôs na nossa alma.

Perante a campanha sistematicamente organizada para obscurecer a verdade ou silenciar tudo o que sejam obras boas e retas, que às vezes quase não têm eco nos grandes meios de comunicação, nós, cada um no seu ambiente, temos de atuar como porta-vozes da verdade. Alguns Papas falaram da conspiração do silêncio(10), que se tece em torno das boas obras – literárias, cinematográficas, religiosas, de benemerência social – promovidas por bons católicos ou por instituições organizadas por católicos. São silenciadas ou deixadas na penumbra pelo facto de serem promovidas por católicos, enquanto se orquestram louvores a obras ou iniciativas que atentam contra os valores humanos, que pregam uma falsa liberdade e a anti-solidariedade, ou que cancelam do horizonte do homem as ânsias de Deus.

Nós podemos fazer muito bem neste apostolado da opinião pública. Às vezes, não conseguiremos esclarecer senão os vizinhos, os amigos que visitamos ou nos visitam, os colegas de trabalho... Noutros casos, poderemos ir um pouco mais longe por meio de uma carta aos jornais, de uma chamada telefónica a uma emissora de rádio ou de televisão, não nos furtando a responder ao questionário de uma pesquisa de opinião pública... Devemos afastar a tentação do desalento, o sentimento de que “pouco podemos fazer”. Um rio caudaloso é alimentado por pequenos regatos que, por sua vez, se formaram talvez gota a gota. Que não falte a nossa. Assim começaram os primeiros cristãos.

Peçamos hoje a Santa Catarina que nos comunique um pouco do seu amor à Igreja e ao Sumo Pontífice, e que tenhamos ânsias de dar a conhecer a doutrina de Cristo em todos os ambientes, por todos os meios ao nosso alcance, com imaginação e com amor, com sentido optimista e positivo, sem negligenciar uma única oportunidade. E, com palavras da Santa, peçamos também a Nossa Senhora: “A ti recorro, Maria! Ofereço-te a minha súplica pela doce Esposa de Cristo e pelo seu Vigário na terra, a fim de que lhe seja concedida luz para governar a Santa Igreja com discernimento e prudência”(11).

(1) João Paulo II, Homilia em Sena, 14-X-1980; (2) Santa Catarina de Sena, Cartas, III; (3) idem, Carta 207, III; (4) cfr. Paulo VI, Homilia na proclamação de Santa Catarina de Sena como Doutora da Igreja, 4-X-1970; (5) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 344; (6) cfr. João Paulo II,Homilia, 29-IV-1980; (7) Santa Catarina de Sena, Carta 371, V; (8) Josemaría Escrivá, Amar a Igreja, Prumo-Rei dos Livros, Lisboa, 1990, pág. 59; (9) 1 Jo 1, 5; (10) cfr. Pio XI, Enc. Divini Redemptoris, 10-III-1937; (11) Santa Catarina de Sena, Oração, XI.

Pe. Francisco Fernández Carvajal in hablarcondios.org



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segunda-feira, 29 de abril de 2024

A heresia é o pecado dos pecados

A suprema deslealdade para com Deus é a heresia. É o pecado dos pecados, a mais repugnante das coisas que Deus desdenha neste mundo enfermo. No entanto, quão pouco entendemos da sua enorme odiosidade! É a poluição da verdade de Deus, que é a pior de todas as impurezas.

Porém, quão pouca importância damos à heresia! Fitamo-la e permanecemos calmos... Tocamo-la e não trememos. Misturamos-nos com ela e não temos medo. Vemo-la tocar nas coisas sagradas e não temos nenhum sentido do sacrilégio. Inalamos o seu odor e não mostramos qualquer sinal de abominação ou de nojo. De entre nós, alguns simpatizam com ela e alguns até atenuam a sua culpa. Não amamos a Deus o suficiente para nos enraivecermos por causa da Sua glória. Não amamos os homens o suficiente para sermos caridosamente verdadeiros por causa das suas almas.

Tendo perdido o tacto, o paladar, a visão e todos os sentidos das coisas celestiais, somos capazes de morar no meio desta praga odiosa, imperturbavelmente tranquilos, reconciliados com a sua repulsividade, e não sem proferirmos declarações em que nos gabamos de uma admiração liberal, talvez até com uma demonstração solícita de simpatia tolerante.

Por que estamos tão abaixo dos antigos santos, e até dos modernos apóstolos destes últimos tempos, na abundância das nossas conversões? Porque não temos a antiga firmeza! Falta-nos o velho espírito da Igreja, o velho génio eclesiástico. A nossa caridade não é sincera porque não é severa, e não é persuasiva porque não é sincera. 

Falta-nos a devoção à verdade enquanto verdade, enquanto verdade de Deus. O nosso zelo pelas almas é fraco, porque não temos zelo pela honra de Deus. Agimos como se Deus ficasse lisonjeado pelas conversões, e não pelas almas trémulas, salvas por uma abundância de misericórdia. 

Dizemos aos homens a metade da verdade, a metade que melhor convém à nossa própria pusilanimidade e aos seus próprios preconceitos. E, então, admiramo-nos que tão poucos se convertam e que, desses tão poucos, tantos apostatem. 

Somos tão fracos a ponto de nos surpreendermos que a nossa meia-verdade não tenha tanto sucesso como a verdade completa de Deus. 

Onde não há ódio à heresia, não há santidade. Um homem, que poderia ser um apóstolo, torna-se uma úlcera na Igreja por falta de recta indignação.

Pe. Frederick William Faber in 'The Precious Blood' (Tan Books and Publishers - 2009)


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Cardeal Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XII






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domingo, 28 de abril de 2024

Curta entrevista ao exorcista Padre Duarte Sousa Lara



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Uma Missa em Portugal depois do 25 de Abril

A Mãe de um amigo nosso encontrou recentemente uma carta que escreveu a uma amiga quando tinha 15 anos. A época foi o pós-25 de Abril, em pleno "Verão quente". As Missas não escaparam à revolução e o texto mostra a perplexidade de uma rapariga de 15 anos que não percebia porque é que de repente a Missa já não era como tinha sido até aí.

«No outro dia, o primeiro Domingo que cá passámos, calcula lá que o senhor prior, segundo as suas ideias religiosas a que tu já estás a par, resolveu perguntar aos presentes, não habituais àquelas “reuniões ou assembleias”, como diz o senhor prior, quais eram as suas paróquias e onde se situavam!! 

Depois começou imediatamente com a 1ª leitura, seguindo-se a 2ª e por fim a 3ª! Vê lá, o senhor prior chama 3ª leitura ao Evangelho, e lê-o sentado! Claro que nós nos levantamos sempre, mas desta vez fui embalada no ritmo e não percebi sequer quando se leu o Evangelho. 

Depois segue-se a homilia (palavra que não é usada no vocabulário do senhor prior, assim como pecado, Eucaristia, missa, porque são palavras que nem todos entendem, e em vez de as explicar, substitui-as, isto é o cúmulo). 

Mas como ia a dizer, na homilia todos falam: o senhor prior e os católicos presentes, de tal maneira que chegaram (nós não!) (nem queríamos porque não é próprio não achas?) a discutir o problema dos católicos serem acusados de reaccionários ao ajudarem os desalojados de Angola. Mas como havia quem discordasse, cada um falava, e ouvia-se um burburinho dos comentários pessoais, e isto em plena homilia. 

A Mãe, não pôde mais e teve de sair. Nós ficámos, e depois a Mãe voltou para a Eucaristia. O senhor divide a missa em duas partes: primeira – leitura e sua explicação; segunda – Eucaristia. A primeira dura só 58 min e a segunda 12 min! Quer dizer a parte principal dura 1/5 da parte das “leituras”!»

24/08/1975 – Algures nos arredores de Lisboa


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sábado, 27 de abril de 2024

Os Cartuxos limitam a sua produção

No ano passado, os monges cartuxos anunciaram que não iriam acompanhar a procura do mercado para os seus produtos, que são principalmente licores e produtos à base de plantas.

A casa-mãe dos Cartuxos é La Grande Chartreuse, perto de Grenoble, em França. Em 1605, os monges de La Grande Chartreuse receberam um misterioso pergaminho que continha a receita do que viria a ser o licor Grande Chartreuse, à base de 130 plantas.

No século XVIII, o Chartreuse verte e o Chartreuse jaune foram produzidos pela primeira vez. Os licores Chartreuse tornaram-se rapidamente um grande sucesso. O Chartreuse jaune ficou conhecido como a "rainha dos licores". Outro produto famoso é o Élixir Végétal.

Actualmente, vivem trinta monges no Grande Chartreuse, mas apenas três deles conhecem o segredo do fabrico dos licores Chartreuse. A venda destes produtos permite apoiar financeiramente o Grande Chartreuse e todos os mosteiros cartuxos do mundo.

Em 2022, a Chartreuse Diffusion, a empresa que comercializa os produtos, vendeu 1,6 milhões de garrafas. Mas depois, em 2023, os cartuxos puseram fim ao "crescimento infinito" e limitaram o volume produzido anualmente a 1,2 milhões de litros, porque a principal tarefa dos cartuxos é a oração solitária.

No entanto, em 2023, os Cartuxos lançaram quatro novos chás de ervas. No futuro, seguir-se-ão produtos de aromaterapia e de fitoterapia.



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Profissão de Fé de S. Pedro Canísio contra a heresia protestante

S. Pedro Canísio foi um sacerdote jesuíta holandês, nascido no ano 1521. Foi um forte combatente contra a revolução protestante, especialmente na Alemanha, Áustria e Suiça. O seu trabalho foi especialmente importante na Alemanha, onde se diz que a Fé católica permaneceu graças a este santo. Foi declarado Doutor da Igreja em 1925, pelo Papa Pio XI. A partir de 1571 passou a incluir esta profissão de fé em todos os seus livros:

Professo diante de Vós a minha fé, Pai e Senhor do Céu e da terra, meu Criador e Redentor, minha força e minha salvação, que desde os meus mais tenros anos não cessastes de nutrir-me com o pão sagrado da vossa Palavra e de confortar o meu coração.

A fim de que eu não vagasse, errando como as ovelhas transviadas que não têm pastor, Vós me congregastes no seio de vossa Igreja; colhido, me educastes; educado, continuastes a me ensinar com a voz daqueles Pastores nos quais Vós quereis ser ouvido e obedecido como em pessoa pelos vossos fiéis.

Confesso em alta voz, para a minha salvação, tudo aquilo que os católicos sempre acreditaram de bom direito nos seus corações.; não quero ter nada em comum com eles, porque não falam nem ouvem rectamente, nem possuem a única regra da verdadeira Fé proposta pela Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana.

Uno-me, em vez disso, na comunhão, abraço a fé, sigo a religião e aprovo a doutrina daqueles que ouvem e seguem a Cristo, não apenas quando ensinada nas Escrituras, mas também quando julgada pela boca dos Concílios Ecuménicos e definida pela boca da Cátedra de Pedro, testemunhando-a com a autoridade dos Padres.

Professo-me também filho daquela Igreja Romana que os ímpios blasfemos desprezam, perseguem e abominam como se fosse anticristã; não me afasto de nenhum ponto da sua autoridade, nem me recuso a dar a vida e derramar o meu sangue em sua defesa, e creio que os méritos de Cristo podem obter a minha salvação e a de outros somente na unidade desta mesma Igreja.

Confesso essa Fé e doutrina que aprendi ainda criança, confirmei na juventude, ensinei como adulto, e que agora, com a minha débil força, defendo. Professo francamente, com São Jerónimo, ser uno com quem é uno à Cátedra de Pedro, e protesto, com Santo Ambrósio, seguir em todas as coisas a Igreja Romana que reconheço respeitosamente, com São Cipriano, como raiz e mãe da Igreja universal.

Ao fazer esta profissão, não me move outro motivo senão a glória e honra de Deus, a consciência da verdade, a autoridade das Sagradas Escrituras, o sentimento e o consenso dos Padres da Igreja, o testemunho de fé que devo dar aos meus irmãos e, finalmente, a salvação eterna que espero no Céu e a felicidade prometida aos verdadeiros fiéis.

Se acontecer de eu vir a ser desprezado, maltratado e perseguido por causa desta minha profissão, considerá-lo-ei uma graça e um favor extraordinários, porque isso significará que Vós, meu Deus, me destes a ocasião de sofrer pela justiça e não quereis que me sejam benevolentes aqueles que, como inimigos declarados da Igreja e da verdade católica, não podem ser vossos amigos.

No entanto, perdoai-os, Senhor, porque, instigados pelo diabo e cegados pelo brilho de uma falsa doutrina, não sabem o que fazem, ou não querem saber.

Concedei-me, contudo, esta graça: de que na vida e na morte eu renda sempre um testemunho autêntico da sinceridade e fidelidade que devo a Vós, à Igreja e à verdade, que não me afaste jamais do vosso santo amor, e que esteja em comunhão com aqueles que Vos temem e guardam os vossos preceitos na Santa Igreja Romana, a cujo juízo, com ânimo pronto e respeitoso, eu me submeto e toda a minha obra.

Todos os santos, triunfantes no Céu ou militantes na terra, que estais indissoluvelmente unidos no vínculo da paz na Igreja Católica, mostrai a vossa imensa bondade e rezai por mim.

Vós sois o princípio e o fim de todos os meus bens; a Vós sejam dados, em tudo e por tudo, louvor, honra e glória sempiterna. Ámen.

PF


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sexta-feira, 26 de abril de 2024

A Igreja Católica e a escravatura

Começo com uma citação do grande historiador Fernand Braudel (1902-1985): “O tráfico negreiro não foi uma invenção diabólica da Europa. Foi o Islão, desde muito cedo em contacto com a África Negra através dos países situados entre Níger e Darfur e dos seus centros mercantis da África Oriental, o primeiro a praticar em grande escala o tráfico negreiro (...). O comércio de homens foi um facto geral e conhecido de todas as humanidades primitivas. O Islão, civilização esclavagista por excelência, não inventou, tampouco, nem a escravidão nem o comércio de escravos”(10).

Aqui chegamos à escravidão negra. Muitos séculos ANTES da chegada dos brancos europeus à África, tribos, reinos e impérios negros africanos praticavam largamente a escravatura, exactamente como os berberes (e demais etnias muçulmanas). Os europeus do século XVI tinham verdadeiro pavor de deixar o litoral ou mesmo desembarcar dos seus navios e avançar para longe da costa e capturar escravos. Estes eram trazidos pelos próprios africanos, que tinham grandes mercados espalhados pelo interior do continente, abastecidos por guerras entre as tribos, ou mesmo puro sequestro. Isso pode ser facilmente comprovado, por exemplo, com a descrição do império de Mali feita pelo cronista muçulmano Ibn Batuta (1307-1377), um dos maiores viajantes da Idade Média, e o depoimento de al-Hasan (1483-1554) sobre Tumbuctu, capital do império de Songai. Ademais, havia tribos africanas que praticavam sacrifícios humanos, naturalmente de escravos. Às vezes, para interromper a chuva, mulheres negras (e escravas) eram crucificadas(11).

Entretando, a Igreja Católica condenava, reiteradamente, a escravidão. Há inúmeras bulas papais a respeito: Sicut Dudum (1435) – Eugénio IV manda libertar os escravos das ilhas Canárias; em 1462, Pio II instrui os bispos a pregarem contra o tratamento de escravos negros etíopes, e condena a escravidão como um “crime tremendo”; Paulo III, na bula Sublimus Dei (1537) recorda aos cristãos que os índios são livres por natureza (isto é, ao contrário dos negros, eles não praticavam a escravidão); em 1571 o dominicano Tomás de Mercado declarou desumana e ilícita a escravidão; Gregório XIV (Cum Sicuti, de 1591) e Urbano VIII (Commissum nobis, de 1639) condenaram a escravidão(12).

Paro no século XVII. Há muito mais(13). Mas qual é o resumo da ópera? Devemos estudar o passado, não inventá-lo.

Notas:
10. BRAUDEL, Fernand. Gramática das Civilizações. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 138.
11. COSTA, Ricardo da. “A expansão árabe na África e os Impérios Negros de Gana, Mali e Songai (sécs. VII-XVI)”.In: NISHIKAWA, Taise Ferreira da Conceição. História Medieval: História II. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009, p. 34-53. 
13. Indico, como um excelente resumo da posição da Igreja, a leitura da Carta Apostólica In Supremo, de 3 de Dezembro de 1839, sobre a condenação da escravidão dos indígenas e do comércio dos negros. Há também uma obra com fontes primárias sobre o tema: BALMES, Jaime. A Igreja Católica em face da escravidão. São Paulo: Centro Brasileiro de Fomento Cultural, 1988.

in ricardocosta.com


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Descubra as diferenças entre estas duas Missas celebradas na praia

A primeira imagem corresponde à primeira Missa celebrada no dia 26 de Abril de 1500 no Brasil, mais concretamente na praia da Coroa Vermelha, a sul da Bahia. A segunda imagem corresponde a uma Missa celebrada há poucos dias, durante a JMJ, no Panamá, concelebrada pelo Bispo Auxiliar de Merlo-Moreno (Argentina). Qual delas parece mais digna, mais respeitosa e mais própria da renovação incruenta do Sacrifício da Cruz?


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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Ladainhas Maiores a 25 de Abril

A Igreja romana conta ainda hoje quatro dias de Rogações: as Ladainhas maiores - a 25 de Abril (procissão de São Marcos) - e as Ladainhas menores, nos três dias que precedem a Ascensão (as Rogações). São dias que a Igreja consagra à prece constante, a fim de implorar a misericórdia de Deus em todas as necessidades temporais e espirituais e particularmente para obter a bênção sobre os frutos da terra.

Na antiga Igreja esses dias de orações eram muitas vezes prescritos. Ora eram regulares e se celebravam anualmente, ora eram extraordinários e prescritos em necessidades particulares como por exemplo para afastar a peste. As Ladainhas maiores datam da época que precedeu a S. Gregório I (cerca do ano 600). Este Papa fixou a sua data em 25 de Abril, dia em que, segundo a tradição, S. Pedro chegara pela primeira vez a Roma. Ele instituiu a igreja de S. Pedro como a igreja da estação desse dia litúrgico.

A Roma pagã celebrava nesse dia a “robigália”, procissão em honra de um deus pagão. As Ladainhas substituíram estas festas. A festa de S. Marcos não tem relação com as Ladainhas maiores e só foi marcada, muito depois, para 25 de Abril. A procissão realiza-se por isso neste dia, mesmo quando a festa de S. Marcos é transferida para outro dia.

A cerimónia consiste na procissão das Ladainhas e o ofício da estação que se segue. Na procissão temos um último vestígio das procissões de estação de que os Cristãos de outrora gostavam tanto e que faziam quase quotidianamente durante a Quaresma e a semana de Páscoa. Eles reuniam-se numa igreja chamada igreja da reunião (ecclesia collecta) de onde vem o nome da oração camada Colecta. Dali dirigiam-se em procissão com o Bispo e o clero para uma outra igreja. Durante caminho os fiéis recitavam as ladainhas dos Santos com o Kyrie eleison. A segunda igreja chamava-se igreja da estação (statio). Nela se celebrava-se a Santa Missa.

Os quatro dias das Ladainhas conservaram esse uso venerando que nos é tão caro. Realmente não devemos apenas com perseverança mas também rezar juntos. A essa oração perseverante e em comum, Cristo prometeu a força e o sucesso. Na procissão cantam-se as antigas Ladainhas dos Santos nas quais imploramos para todas as nossas necessidades a intercessão de toda a Igreja triunfante. As Orações finais das Ladainhas são belíssimas e muito edificantes.

Dom Pius Parsch in 'Testemunhas do Cristo' (1951)


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Dia de São Marcos, Apóstolo e Evangelista

São Marcos era filho de Maria de Jerusalém, em cuja casa São Pedro se refugiou depois de ser libertado do cárcere (cf. At 12, 12). Era primo de Barnabé. Acompanhou o São Paulo na sua primeira viagem a Roma (cf. Col 4, 10) e esteve próximo dele durante a sua prisão em Roma (Fm 24). 

Depois, tornou-se discípulo de São Pedro, de cuja pregação se fez intérprete no Evangelho que escreveu (cf. 1 Pe 5, 13). O seu Evangelho é comumente reconhecido como o mais antigo, utilizado e completado por São Mateus e por São Lucas. Parece que também os grandes discursos da primeira parte do Atos dos Apóstolos são uma retomada e desenvolvimento do Evangelho de São Marcos, a partir de Mc 1, 15. É-lhe atribuída a fundação da Igreja de Alexandria. 

São Marcos amava Nosso Senhor sem qualquer reserva; estava maduro para o Martírio. Os seus sucessos e os progressos da Fé exasperavam os pagãos, e em particular os sacerdotes de Serapis. Apoderaram-se dele durante a solenidade da Páscoa do ano 68. Fizeram-no sofrer durante dois dias um horrível suplício, arrastando-o com cordas por terrenos pedregosos dos subúrbios de Buroles; mas o amor é mais forte do que a morte, e o Santo bendizia a Nosso Senhor e dava-Lhe graças por ter sido julgado digno de sofrer por seu amor. 

Durante a noite que separou os dois dias de torturas, o Santo foi reconfortado por visitas celestes. Foi primeiro um Anjo, que lhe disse: "Marcos, servo de Deus e chefe dos ministros de Cristo, no Egipto, o vosso nome está escrito no livro da vida, e as Potências celestes virão em breve procurar-vos para vos conduzirem ao Céu". Depois, apareceu-lhe o próprio Nosso Senhor, como o tinha conhecido na Galileia: "A paz esteja convosco, Marcos Nosso evangelista", diz-lhe; depois desapareceu. Esta palavra de encorajamento bastava. São Marcos foi de novo arrastado e dilacerado pelas pedras, enquanto bendizia a Deus: "Meu Deus, nas vossas mãos entrego a minha alma". 

São Jerónimo in 'A vida de São Marcos Evangelista'


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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Missa de início de Pontificado do Papa Bento XVI - 24/IV/2005

 
"Apascenta as minhas ovelhas", diz Cristo a Pedro, e a mim, neste momento. Apascentar significa amar, e amar quer dizer também estar prontos para sofrer. Amar significa: dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua presença, que ele nos oferece no Santíssimo Sacramento. 

Queridos amigos neste momento eu posso dizer apenas: rezai por mim, para que eu aprenda cada vez mais a amar o Senhor. Rezai por mim, para que eu aprenda a amar cada vez mais o seu rebanho vós, a Santa Igreja, cada um de vós singularmente e todos vós juntos. Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos. Rezai uns pelos outros, para que o Senhor nos guie e nós aprendamos a guiar-nos uns aos outros.



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São José, modelo de pureza para os homens

São José ocupa nos Evangelhos um papel secundário, tendo-lhe sido confiada, assim como a Maria, uma vida de silêncio e oração.

Estamos habituados a encher a nossa Mãe do Céu de honras e louvores, e fazemos muito bem ao fazê-lo, mas esquecemos muitas vezes o homem que a acompanhou em toda (ou quase) esta aventura de ser Mãe de Deus.

Relembramos inúmeras vezes que Maria foi a escolhida por Deus para Encarnar, tendo sido o seu ventre o primeiro sacrário, mas não nos lembramos que também José foi escolhido por Deus. Foi escolhido para ser o exemplo masculino do Deus feito Homem. Foi com José que Jesus aprendeu (com ciência adquirida) a trabalhar, comportar-se como um homem na família e na sociedade e, até quem sabe, a brincar. A sua fidelidade e simplicidade foram atributos essenciais na missão de ser fiel guardador de Jesus, e de Sua Santíssima Mãe.

Desde sempre o mundo considerou que a virilidade masculina se demonstra através da busca pela sensualidade, e da “carnalidade” das relações. O homem é mais homem quando “possui” muitas mulheres. São José mostra-se exemplo de castidade, a que não será alheio o facto de se ser um homem extremamente humilde. 

Este é um exemplo fortíssimo, especialmente para nós homens, de como pela humildade é possível a castidade, e por consequência a santidade. São José, pai adoptivo do Redentor, deve ser o padroeiro da nossa pureza, a quem se deve recorrer, sem qualquer tipo de receio, como intercessor para evitar a corrupção do corpo e da alma. 

Aqui fica uma oração belíssima a este Santo Patriarca:

Castíssimo São José, esposo da Mãe de Deus e guarda fiel da sua virgindade: 
alcançai-me por Maria a pureza do corpo e da alma e a vitória sobre todas as tentações e dificuldades.
Encomendo-vos os esposos cristãos, para que unidos em sincero amor e fortalecidos pela graça, se amparem mutuamente nas dificuldades e tribulações.
Rogai por nós, São José, esposo da Virgem Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Ámen.



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terça-feira, 23 de abril de 2024

Sacerdote criou um serviço para ir a casa de quem mais precisa



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São Jorge, o grande Mártir

Devem ter sido espectaculares as circunstâncias da sua morte para que os Orientais lhe tenham sempre chamado "o grande mártir", e para que a sua pessoa se tenha, bem depressa, tornado lendária. Não há culto mais antigo nem mais espalhado. 

Já no Século IV, o Imperador Constantino mandou construir uma igreja em honra a São Jorge. Na Inglaterra, principalmente, o seu culto tornou-se, ainda e é, mais popular. Em 1222 o concílio nacional de Oxónia ou Oxford estabeleceu uma festa de preceito em sua honra.

Nos primeiros anos do Século XV, o arcebispo de Cantuária ordenou que tal festa fosse celebrada com tanta solenidade como o Natal. Antes disso o rei Eduardo III tinha fundado, em 1330, a célebre Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, conhecidos também pelo nome de Cavaleiros da Jarreteira. Vários artistas, como Rafael, Donatello e Carpaccio representaram São Jorge.

No lugar onde esteve içada a bandeira de Portugal, por ocasião da batalha de Aljubarrota, foi construída, em 1388, uma ermida dedicada a São Jorge. Em 1387, por ordem de Dom João I, rei de Portugal, a imagem deste Santo foi incorporada à procissão de Corpus Christi.


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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Considerações Teológicas e Litúrgicas sobre a Concelebração

Em 1981, o padre carmelita Joseph de Sainte-Marie dedicou ao "problema" da concelebração - que é o que ela se tornou depois do Vaticano II - um volume extenso e bem documentado, que parece ser até hoje o estudo mais completo sobre o assunto (L'Eucharistie, salutdu monde, Dominique Martin Morin, Paris 1982).

O cerne do problema da concelebração é saber se na concelebração há apenas um sacrifício, isto é, uma Missa, ou tantas Missas quantos os concelebrantes. É a esta questão que o Padre Joseph dedica a maior parte dos seus esforços, pois é da resposta a esta pergunta que depende consequentemente a adequação da concelebração ao bem comum da Igreja, ou o seu contrário. Em última análise, a razão última da disputa é saber qual o modo de celebrar o santo Sacrifício da Missa que dá a Deus a maior glória e obtém a maior riqueza de graça redentora para a Igreja.

Uma primeira observação diz respeito à distinção capital entre a antiga concelebração "cerimonial" e a "sacramental". O Padre Joseph de Sainte-Marie explica-a bem, recordando as suas origens históricas. A concelebração das origens é exclusivamente "cerimonial": o bispo, ou o Papa, celebra e os padres ficam à volta. Com o Ordo Romanus III (últimos anos do século VIII), a concelebração "sacramental" aparece pela primeira vez em Roma: tem lugar em quatro ocasiões durante o ano (Páscoa, Pentecostes, festa de São Pedro, Natividade).

Os padres-cardeais da cidade de Roma reúnem-se à volta do Papa para concelebrar. No século IX, na sequência do Ordo Romanus IV, há documentos que falam da concelebração da Missa Crismal de Quinta-feira Santa em algumas cidades de França (por exemplo, Lyon) e de outras festas litúrgicas como a Epifania e a Ascensão. Com o fim do século XII, a concelebração em Roma desaparece. No século XVI, reaparece inicialmente de forma esporádica e depois mais generalizada nas missas de ordenação, sobretudo sacerdotal e episcopal.

No século XVIII, a concelebração "sacramental" começou a ser adoptada no Oriente por influência do Ocidente, mas só era prevista nos dias de festa para dar maior relevo à liturgia. No Oriente, sempre existiu a concelebração "cerimonial", que continua a ser exclusiva na maior parte das igrejas (caldeia, arménia, etíope, greco-ortodoxa, síria).

O tema da concelebração reapareceu após a Segunda Guerra Mundial, promovido pelo movimento litúrgico: o princípio teológico subjacente era a supressão da distinção entre o sacerdócio do padre e o dos fiéis que "concelebram" juntos. O Papa Pio XII denunciou estes erros na sua encíclica Mediator Dei (20-11-1947). Em 1954, Pio XII reafirmou que só o sacerdote tem o poder de oferecer o sacrifício da Missa e condenou o princípio segundo o qual uma Missa assistida por 100 sacerdotes é igual a 100 Missas.

A 22 de Setembro de 1956, no Congresso Internacional de Liturgia, Pio XII clarificou o seu pensamento, explicando que "no caso de uma concelebração no verdadeiro sentido da palavra, Cristo, em vez de agir através de um ministro, age através de vários". No discurso do Papa, fica clara a necessária diferença entre concelebração "sacramental" e "cerimonial".

Durante os anos do Concílio, houve uma mudança da concelebração cerimonial para a sacramental, "lançada" por teólogos e liturgistas progressistas, mas rigorosos, como o Padre Karl Rahner, o Bispo A.G. Martimort, Dom Bette, que estavam conscientes de que a concelebração sacramental implicava um único acto litúrgico e, portanto, uma única Missa. Esta linha influenciou o Concílio, onde se discutiu muito sobre o assunto.

A 25 de Janeiro de 1964, Paulo VI, com o Motu Proprio Sacram Liturgiam, instituiu uma comissão encarregada de pôr em prática as prescrições da Sacrosanctum Concilium. Paulo VI concelebrou em S. Pedro a 14 de Setembro do mesmo ano, na abertura da terceira sessão do Concílio. Desde então, a concelebração sacramental é uma prática corrente na Igreja.

A unicidade do Sacrifício em caso de concelebração é considerada pelo Padre de Sainte-Marie como um facto certo e não discutível. São Tomás já tinha colocado a questão: "Se mais do que um sacerdote pode consagrar a mesma hóstia", ao que deu a seguinte explicação: "Se cada sacerdote actuasse pela sua própria virtude, os outros celebrantes seriam supérfluos, bastando um só. Mas como o sacerdote consagra apenas na pessoa de Cristo, e os muitos são apenas "um em Cristo", pouco importa que este sacramento seja consagrado por um ou por muitos, desde que se respeite o rito da Igreja" (Summa Theologica, III, q.82, a.2, ad. 2 m).

No fundo, S. Tomás considera supérfluo que vários sacerdotes façam o que só um pode fazer. Por conseguinte, para a concelebração de uma Missa, o número de celebrantes pouco ou nada importa. E a única maneira de multiplicar o número de sacrifícios eucarísticos (para a glória de Deus e a salvação das almas) não é multiplicar os ministros da concelebração, o que produz o efeito contrário, mas multiplicar as celebrações litúrgicas do rito sacramental da Missa.

O teólogo dominicano Roger Thomas Calmel dá um exemplo muito apropriado para explicar a unicidade do sacrifício no caso da concelebração: "Se um pelotão de doze soldados se reúne para matar um traidor, haverá certamente doze actos de "matança", mas a matança é apenas uma. Imaginemos que os traidores são muitos. Pois bem, a Pátria será muito mais eficazmente assistida se cada um dos soldados matar um traidor, do que se 12 soldados se reunirem para matar apenas um traidor. Do mesmo modo, a Igreja de Deus será muito mais ajudada (e sobretudo Deus será muito mais glorificado) se, por exemplo, 40 sacerdotes rezarem cada um uma Missa, do que se 40 sacerdotes se reunirem para rezar uma única consagração, uma única missa. (...) A glória dada a Deus, a intercessão propiciatória pelas almas é certamente menor quando há um só sacrifício sacramental (concelebração) do que quando há 40 sacrifícios sacramentais. Digo 'sacramentais' para os distinguir do sacrifício sangrento que é um só".
Mais tarde, em 1991, numa carta ao Cardeal Pietro Palazzini, o Padre Enrico Zoffoli, autor do texto 'La Messa unico tesoro e la sua concelebrazione', pergunta: quantas Missas há de facto: uma, ou quantos sacerdotes concelebrantes? "Não hesito em responder - escreve ele - que todos celebram uma só Missa, se verdadeiramente concelebrarem.

De facto: se na Missa individual um é o ministro do ofertório, na Missa concelebrada há muitos; mas só fisicamente, não moralmente; uma distinção que, na minha opinião, é suficiente para resolver a controvérsia. Na realidade: um é o altar..., uma é a matéria a ser consagrada..., uma é a consagração..., um é o momento de pronunciar as palavras da consagração...; um é o sacerdócio ministerial sublinhado pela concelebração... Todos, portanto, representam e comportam-se como se fossem (formassem) UM SÓ MINISTRO com a intenção de realizar uma única acção litúrgica: Multi sunt unum in Christo..." (S. Th., III, q.82, a.2, 3um).

O importante é que "omnium intentio debet ferri ad idem instans consecrationis" (iv., c.). "A questão - escreve o teólogo passionista - antes de qualquer uma das minhas afirmações e explicações, foi várias vezes proposta a numerosos e seleccionados grupos de fiéis, que unanimemente e sem qualquer hesitação se pronunciaram a favor da ideia de que a "Missa" concelebrada é uma só, e não muitas Missas celebradas, tantas quantos são os sacerdotes.

Alguns gostariam de fazer passar Pio XII como precursor da concelebração.  Na realidade, sob o pontificado de Pio XII, a concelebração não tinha direito de cidadania, excepto - como já era tradição da Igreja - por ocasião das ordenações episcopais e sacerdotais. A única novidade está contida na Episcopalis Consecrationis com a qual a "concelebração episcopal" (isto é, a imposição das mãos sobre o novo bispo) é aberta aos bispos assistentes, segundo indicações precisas. Com a afirmação de que na concelebração há uma "consagração simultânea" (Alocução por ocasião do encerramento do Congresso Nacional de Liturgia Pastoral - Assis 1956), parece claro que se trata de um único Sacrifício, como sustenta também o Cardeal Journet, que afirma que na concelebração há muitos consagradores, "plures ex aequo consecrantes", mas uma só ação consagratória, "uma só consecratio" (Le sacrifice de la Messe, in Nova et Vetera, 46 (1971), p. 248).

É de notar também que as intervenções magisteriais mais autorizadas em matéria litúrgica (a Constituição Apostólica Episcopalis Consecrationis e a Encíclica Mediator Dei) não tratam da concelebração eucarística em sentido estricto. Pio XII só se ocupou dela na sua alocução de 22 de Setembro de 1956, na qual afirmou que "no caso de uma concelebração no sentido próprio da palavra, Cristo, em vez de agir através de um ministro, age através de vários".

A primeira experiência de concelebração teve lugar a 19 de Junho de 1964, na igreja de Sant'Anselmo, com a concelebração de 20 sacerdotes. Desde então, a concelebração difundiu-se de forma exponencial e selvagem. Mas - para esclarecer as intenções dos inovadores - é necessário ler o capítulo XI "Concelebração" do volume de Mons. Annibale Bugnini, 'La riforma liturgica' (1948-1975) (C.L.V.- Edizioni Liturgiche, Roma 1997, pp. 133-144 e passagens), no qual o autor, secretário da Comissão Litúrgica Preparatória, explica como chegou ao "primeiro rito completamente novo da reforma" (p. 133), o da concelebração e da comunhão sob as duas espécies, que entrou em vigor a 15 de Abril
de 1965. Bugnini confirma como "nesta forma de celebração, vários sacerdotes, em virtude do mesmo sacerdócio e na pessoa do Sumo Sacerdote, actuam juntos, com uma só vontade e uma só voz, e celebram o único sacrifício com um só acto sacramental e participam nele juntos" (p. 138).

Para além da diatribe teológico-litúrgica, é preciso ter em conta as implicações pastorais da concelebração. É certo que a concelebração não ajuda nem os sacerdotes nem os fiéis na sua vida espiritual e, portanto, na salus animarum (salvação das almas) que é - até prova em contrário - a lex suprema (da Igreja). Na concelebração, os sacerdotes estão imersos em mil distracções e estão certamente muito menos envolvidos no mistério do que se celebrassem sozinhos.

Os fiéis assistem a uma diminuição acentuada das Missas, porque os padres preferem muitas vezes a concelebração mais rápida e menos exigente. Se a concelebração for então gradualmente imposta, será cada vez mais difícil para os fiéis encontrarem Missas a horas diferentes, uma vez que, para cada concelebração, há uma diminuição de Missas (e de graças) inversamente proporcional ao número de concelebrantes. Logo, menos Missas para aquele povo de Deus, aquele rebanho, que parece ser o grande privilegiado de todas as escolhas pastorais. Mas, no que respeita à concelebração, ela é, na realidade, a grande penalizada. A não ser que se queira um lento convite ao abandono progressivo da Santa Missa.  

Cristiana de Magistris in Corrispondenza Romana


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Trinità dei Pellegrini com fachada renovada

Terminou o restauro da fachada da paróquia Trinità dei Pellegrini, em Roma. Nesta fotografia pode ver-se o antes e o depois.

A igreja, que estava semi-abandonada, foi entregue pelo Papa Bento XVI à Fraternidade Sacerdotal de São Pedro, em 2007. Desde aí, graças à liturgia tradicional bem cuidada, a vida paroquial floresceu e os resultados estão à vista.


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domingo, 21 de abril de 2024

A importância dos Acólitos



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Os 7 graus de humildade segundo Santo Anselmo

Hoje é dia de Santo Anselmo de Cantuária (onde morreu) ou d'Aosta (onde nasceu): um grande missionário (Arcebispo de Canterbury), cientista (teólogo) e Doutor da Igreja. Apesar de ser um génio conseguiu crescer em humildade; virtude difícil mas necessária para se ser feliz.

Estes são os 7 graus de humildade, segundo Santo Anselmo:

1. Reconhecer-se digno de desprezo (por causa da própria miséria);
2. Sofrer por causa disso (seria errado amar os próprios defeitos);
3. Confessá-lo sinceramente;
4. Convencer os outros disso;
5. Tolerar pacientemente que o digam;
6. Tolerar pacientemente ser tratado como vil;
7. Alegrar-se por causa disso.


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sábado, 20 de abril de 2024

O Bispo Vitus Hounder foi enterrado em Êcone










Como tinha pedido, Mons. Vitus Huonder foi enterrado em Êcone, junto ao túmulo de Mons. Marcel Lefebvre. A partir de Maio de 2019, quando passou a Bispo emérito da diocese de Coira por razões de idade, Mons. Huonder mudou-se para uma casa da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X, com autorização do Papa Francisco.

Aí, ao longo destes 5 anos, colaborou com a FSSPX em vários aspectos do seu apostolado. Entregou a alma ao Senhor no passado dia 3 de Abril. Que a sua alma descanse em paz.


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